Há dez anos atrás*
Por Cunha e Silva Filho Em: 04/08/2008, às 15H47
O tempo era inesgotável
O tempo era uma riqueza
O tempo era um amigo que não ria de mim
Ninguém falava do tempo
Eu não discutia o tempo
Eu não discutia a vida
O tempo era amigo do peito
Não havia um sinal no rosto
Não havia uma marca do tempo
O tempo era meu amigo
Não me perguntavam quantos anos tinha
O problema do tempo não existia
Os meus cabelos eram negros
Não havia comparações cronológicas
O tempo não me assustava
O tempo não ria de mim
Porque eu não escondia o tempo
O tempo era aberto e infinito
O tempo não dizia as horas
O tempo passava e eu não via
O tempo era meu amigo
E eu não sabia por quê.
* Rio de Janeiro, dezembro de 1979.