H. Dobal
Em: 22/02/2007, às 11H02
BIOGRAFIA
1927
1934
1941 -
1948
1949
1950/1951 -
1952 - É diplomado Bacharel em Direito, sendo eleito orador da turma.
1960
1965
1966
1969
1970 -
1971 -
1972 -
1973 -
1974
1978 -
1980 -
1985 -
1986
1987 -
1988
1989
1991
1992
1993
1995
1997
2000
2002
Do livro inédito CAMPO DE CINZA: REALISMO FENOMÊNICO E FUNÇÃO ÉPICA NA POESIA DE H.DOBAL, de autoria de Ranieri Ribas
AMOSTRAGEM
EL MATADOR
H. Dobal
“1776-Agôsto, 1ª – tem começo a guerra contra os índios Pimenteiras, para a qual marchou neste dia, da cidade Oeiras, uma forte expedição militar sob o comando do tenente-coronel João do Rêgo Castelo Branco”
De sangue e de fogo
se faz um nome.
No sangue e no fogo
se desfaz a história
de muitas vidas.
A sangue e fogo
a ferro e fogo
um homem liquida
seus semelhantes.
“... foram presos uns e postos em pedaços outros, trazendo-se as orelhas que se pregaram nos logares públicos da aldeia.”
No sangue
a crueldade desnecessária
No sangue
a violência contra os desarmados
“...manda logo o tenente-coronel o seu filho Felix do Rego e alguns agregados atraz dos Gueguezes...”... mataram parte delles e levaram as cabeças que poseram em matros na aldeia de S. Gonçalo para o tempo as consumir”.
Ao preço de tantas vidas
sua vida se perde
do consumo do tempo.
Não matador de touros
loureados da morte
vencedor dos verões.
Matador de índios.
Sua glória triste
pesa sobre nós.
Sobre a sua memória
pesa a morte inglória
das nações tapuias.
“... e alcançando sucessivamente as malocas dos Tapuyas, os vão passando todos a ferro”.
Tenente-coronel dos auxiliares
João do Rego Castello Branco
Chefe da tropa
Senhor dos trabalhos
castigos e desgostos,
matador de índios.
“No anno de 1780 vendo-se o tenente-coronel Jo~so do Rego na missão de S. Gonçalo com menos índios do que desejava para mandar em seu serviço.”
Sem firmeza
nos ajustes de paz.
Firme na guerra
a todos os índios.
Rápido na guerra
lança os proclamas
as derramas
de gente
farinha
cavalos e bois.
“O coronel João do Rego, apesar de velho e quasi cego, tomou a cargo a conquista; porque apesar de alquebrado de forças não tinha perdido a mania de querer achar o el-doirado”.
Índios e ouro
seu sonho execrando.
A lagoa dourada
O rio do Sono:
se resolve em sangue
a sede de ouro.
Os corpos no campo
para o pasto das feras.
Passados à espada.
Acoroazes
Pimenteiras
Gueguezes
raça extinta
lembrança extinta
nomes nações
apagados
no próprio sangue.
Matador de índios.
A fama de seu nome
a fúria de seu nome
Sua memória em sangue
se repete.
Antilírica praça
de árvores mortas.
Balcão de peixes
é o teu cimento
e namorados
de olhar de peixe
nas tuas pistas
passeiam seu desamor.
Estes confins a praça
prendem entre montanhas.
E tristes tristes de tão longe
voltam as planícies do Piauí,
onde outro gado de meninos
procura restos de feira.
Não se procure em Laranjeiras
uma Praça (onde ela está).
nas nesta vida e por inteira
e antilírica em seu estar.
e antilivre nos seus restos
que os ex-meninos vêm buscar,
e em suas feiras de namorados
de olhar de peixe, antipraça.
(H. Dobal)
PORTA-AVIÕES VISTO
Sobre as ondas valsa
o porta-aviões.
Belonave nave ave do mar
para o amar dos mariscos
o navio enorme dorme.
Na amarração do Ministério
a oficiala de administração
o supervisor-geral-dos-cabineiros
e outras patentes fazendárias
nas grandes manobras do dia burocrático
inventam canais. Ah! Minas Gerais
no balouço de sua guerra amiga
em que dilúvio nos naufragará?
Mas porém um anjo
‘mexendo asas azuis dentro da tarde’
se transfigura em gaivota, se precipita do céu do Rio,
sem fulgor profetiza o inadvento:
não haverá! não haverá!
H. Dobal
Campo Maior
Ai campos do verde plano
tão alagado de carnaúbas
Ai planos dos tabuleiros
todo transformados tão de repente
num vasto verde num plano
campo de flores e de babugem.
Ai rios breves preparados
de noite e nuvem. Ai rios breves
amanhecidos na várzea longa,
cabeças d’água do Surubim
no chão parado dos animais,
no chão das vacas e das ovelhas.
Ai campos de criar. Fazendas
de minha avó onde outrora
havia banhos de leite. Ai lendas
tramadas pelo inverno. Ai latifúndios.
(H. Dobal)
H. Dobal
Os amantes
Eis-me de novo adolescente. Triste
vivo outra vez amor e solidão.
Canto em segredo palpitar macio
de pétala ou de asa abandonada.
Outro amor em silêncio e na incerteza
oprime o coração desalentado
Ó lentidão dos dias brancos quando
a angústia os deseja breves como um sonho.
Insidioso amor em minha vida
reveste o tempo para o desespero,
a inquietação da adolescência.
E o pensamento me tortura, prende
como se nunca houvesse outro consolo
que não é mais de amor. Porém de morte.
(H. Dobal)
A VIAGEM
Claro claro mais do que a manhã
o grito dos anuns. No céu tão depressa
subia o sol o sol
nos cavalos suados.
DO MINISTÉRIO DA FAZENDA
Antílirica I
FORTUNA CRÍTICA