Gente que respira o mundo

[Dilson Lages Monteiro]

O tempo é mesmo insuperável em levar afetos para outras dimensões e transformá-los em saudade. Às vezes, de modo corrosivo ou surpreendente, gerando um vazio que ele, o tempo, vai tratando de contornar pela consciência do caminho natural de tudo no mundo. Nascemos para nos renovar de alguma maneira.

Quando entrei nas ruas da pequena e agradável Água Branca, senti-me hoje bem diferente de como habitualmente me invadia o peito olhar para as colinas de sua entrada e à curva que, subitamente, apresenta a sua matriz. Era dia de despedida. Estava ali para dar adeus ao último dos irmãos de meu pai, o tio Raimundo Soares Monteiro, 87 anos. Filho, irmão, pai e esposo admiráveis.

Pouco convivemos fisicamente, quer pelas imposições geográficas da meninice e pré-adolescência no Norte, quer por outras contingências que vão sorvendo nossos segundos sem sequer darmos conta. Somente rapazinho, aos 13 anos, é que efetivamente o conheci (e minha identificação com sua pessoa foi imediata), mas era como se ele, em minha convivência material, sempre tivesse morado. Tínhamos sempre muito a conversar sobre histórias de outros tempos, que o imaginário nunca cansa de ouvir quem muito tem a contar ou a dizer.

Raimundo Soares Monteiro

Sua presença transmitia uma energia de leveza, bom humor, conversa fácil, bondade e apreço ao ser humano, traços comuns, também, aos irmãos Gonçalo, Aderson e Antônio. Todos tinham uma doçura congênita. Pareciam feitos para sentir a respiração do mundo.

Era o mais velho entre os 4 irmãos homens, aos quais se somou filha por adoção, frutos do matrimônio de Manuel Barbosa do Rêgo Monteiro e Laudelina Soares Ribeiro, primos com ascendência na numerosa família Neiva do Rego Monteiro, Soares Ribeiro, Barbosa de Almeida, Da Costa e Silva, Bonfim Pessoa, espalhada entre Regeneração e Água Branca, no Médio Parnaíba Piauiense.

O tempo vai vertendo silenciosamente seus caminhos e hoje seu significado é saudade. Que repouse o último dos irmãos no sono dos justos!