[Galeno Amorim]

Aquele seria o primeiro em sua vida. E seu Cláudio não titubeou. Foi lá, sozinho. E, por conta própria, apanhou um deles. Havia um punhado de livros na pequena estante da biblioteca da escola. Mas ele apanhou justo o que chamara mais sua atenção. Talvez pela capa? Ou por seu título apelativo? O certo é que o livro não tinha mais que do que 40 páginas e letras bem grandes. Na medida certa para ele e os outros que ali estavam para se iniciar naquela arte – a arte da escrita e da leitura, sobre a qual tanto ouvira dizer em seus quase 60 anos. Mas que só agora estava prestes a entrar em sua vida.

Era como tatear no escuro. O homem escolheu pra ler um pequeno livro sobre Portinari. De cara, se encantou com as piruetas do menino Candinho lá pelos lados de Brodowski, interior de São Paulo. Sentiu que precisava se esforçar um pouco. Mas seguiu adiante. Virando as páginas do livro, logo descobriria que havia traços em comum entre sua própria infância com a do personagem da história. Os dois, por exemplo, gostavam de jogar futebol na roça. Era o que bastava: estava feita a ligação.

Agora, o pintor famoso era também seu herói. Um herói de carne e osso.

- Esse menino do livro é um menino igual a gente! - admirou-se o novo leitor.

Até chegar aí não foi nada fácil. De dia, seu Cláudio dá um duro danado como caseiro numa chácara. À noite, vai todo santo dia às aulinhas de alfabetização na Escola Dercy Célia, no Jardim Juliana, periferia de Ribeirão Preto.

Antes de chegar a esse feito extraordinário na vida de homens e mulheres como ele, houve todo um encantamento. Elsa, a professora, lia todas as noites para eles. Lia e, em seguida, conversava sobre as histórias. Só então começava a aula formal, como manda o figurino.

Aos poucos, vão tomando gosto pela coisa. Alguns têm feito descobertas incríveis. Inclusive que ler nem dói. E que, ainda por cima, pode ser bom.