Gêneros pedagógicos
Em: 16/09/2008, às 19H00
Por Gabriel Perissé - especial para Entre-textos
Há várias formas de lecionar. Não é a mesma coisa, por exemplo, dar aulas e proferir palestras. Uma aula particular é diferente da entrevista concedida diante de um público de 100, 200 pessoas. Ministrar uma oficina requer atitudes específicas; uma aula à distância outras.
Tais gêneros pedagógicos vão entrar em sintonia com o estilo de cada professor. Um professor expansivo terá mais facilidade na palestra multitudinária, e terá de ser mais intimista quando for contratado para dar aulas particulares. Aquele que, mais introspectivo, se sente como peixe fora d’água num estúdio de TV, poderá nadar de braçadas na criação de um livro didático.
Em palestra de duas horas, para número superior a 400 pessoas, com direito a telão e PowerPoint, conclui-se bem se o palestrante mantém o ritmo, passeia "dentro" do tema, combinando conceitos e exemplos, informações e metáforas, pequenas histórias e rápidas indicações de leitura, chistes e recomendações, ironias e "broncas", perguntas retóricas e apresentação de músicas.
Já uma aula particular permite o diálogo, a busca ombro a ombro de enfoques novos. Neste caso, há também subgêneros, dependendo da faixa etária do aluno. O aluno adolescente terá melhor desempenho se a aula trouxer variedade temática. O aluno mais velho provavelmente espera (e cobra) focalização concentrada no assunto previsto.
O professor no ambiente da internet, em chats, por e-mails, usando a webcam e outros recursos, terá de sintonizar-se com a linguagem da Idade Mídia, teclar com rapidez, plugar-se a qualquer hora do dia ou da noite.
Mesa-redonda também ensina. Mas tem de haver divergências, bate-papo animado e bate-boca. O público necessita ver um certo atrito entre os participantes, ou então o debate se transforma em reunião de comadres, muitas sedas rasgadas, perda de tempo. É redonda essa mesa porque "rolam" opiniões provocadoras.
Oficina, etimologicamente, é opus facere, ou seja, fazer uma obra, fazer algo em grupo. O professor trabalha menos para que o trabalho seja melhor. Aprende-se à medida que todos se empenham.
Aulas convencionais não podem ser convencionais. Queixam-se muitos professores da falta de disciplina de suas turmas, da baixa motivação, da ínfima participação. Acreditam que o desinteresse dos alunos nada tenha a ver com aulas desinteressantes.
Não acredito em aulas sem condimento artístico. O argumento de autoridade perdeu autoridade.
Aperfeiçoamento docente implica exercitar-se nesses gêneros. É conveniente, portanto, descobrir suas características, possibilidades e limitações.
Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor.