Genealogia
Em: 11/12/2014, às 19H12
Gosto de pesquisar sobre as pessoas do passado na medida em que possam ser relacionadas a outras tantas; sou genealogista amador. Não sou um estudioso de todos os passados sociais. Por limitação de tempo e de perícia, só me detenho nos antepassados de meus pais, com origem no Piauí e no Rio de Janeiro.
Como certa vez escrevi em prefácio à obra de Edgardo Pires Ferreira, “A mística do parentesco”, volume 6, a função do genealogista assemelha-se à do arqueólogo, como no caso de Edgardo que fez nome como profissional da arqueologia quando jovem e homem maduro. O arqueólogo Edgardo ia de sítio a sítio, do mesmo modo como o genealogista Edgardo deslocou-se de um tronco familiar para outro.
Hoje, temos, no Piauí, estudioso de semelhante compostura e talento. Não que o genealogista que surge tenha sido arqueólogo, mas sim por sua cientificidade investigativa e suas interpretações bem articuladas e sustentáveis, à semelhança do autor dos seis densos volumes de “A mística do parentesco”. Refiro-me a Valdemir Miranda de Castro que acaba de lançar o livro “Enlaces de famílias”, sobre as origens do povo brioso da bacia do rio Longá.
Valdemir é meu primo distante. Também sou remotamente do vale do grande rio. A obra dele é de alto valor. Ela confirma o modelo de pesquisa de seu mestre, seu parceiro em interesses intelectuais e seu amigo, Edgardo Pires Ferreira. Mais que tudo, a pesquisa do meu parente de Esperantina faz factível uma completa genealogia da gente do norte do Piauí até os dias correntes.
Pode o leitor perguntar: E daí? Para que serve a genealogia?
Respondo. A busca de antepassados e dos filhos e netos deles leva o pesquisador a consultar inventários, testamentos, registros de batismos e de casamentos, atos de doação, escrituras de outorga de direitos, assentamentos de ordens religiosas e o mais. Esses achados de natureza documental comunicam aos ora viventes sobre os hábitos e costumes de cada tempo, sobre a indumentária, as opiniões, os preconceitos, os padrões de afetividade.
Não digo que o historiador comum não possa fazer o mesmo. O que digo é que o genealogista tem a motivação para essas descobertas e ainda para desvendar os destinos, por via dos enlaces de famílias, que tiveram os costumes, as roupas, as terras, as casas, os currais, os jogos de chá ou de jantar, as obras de arte, os objetos de valor e de estima, as opiniões, as crenças e os preconceitos.
Cumprimento o Valdemir e agradeço por fazer-me mais clara a noção do potencial da pesquisa genealógica para a história social.