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A meu amigo Miguel Pérez Ferrero

 

Perdi-me muitas vezes pelo mar,

com o ouvido cheio de flores recém-cortadas,

com a língua cheia de amor e de agonia.

Muitas vezes perdi-me pelo mar,

como me perco no coração de alguns meninos.

 

Não há noite em que, ao dar um beijo,

não sinta o sorriso das pessoas sem rosto,

nem há ninguém que, ao tocar um recém-nascido,

olvide as imóveis caveiras de cavalo.

 

Porque as rosas buscam em frente

uma dura paisagem de osso

e as mãos do homem não têm mais sentido

que imitar as raízes sob a terra.

 

Como me perco no coração de alguns meninos,

perdi-me muitas vezes pelo mar.

Ignorante da água vou buscando

uma morte de luz que me consuma.

 

 

tradução William Agel de Melo