os fungos se fundaram de vez,

se fundiram aos outros fundos

e agora se vive de fungar os dias

ruidosos aos profundos ouvidos

 

os fungos são muito fundos:

nas entranhas, nos recursos

nas contas furtadas

na carência das palavras

nos papéis dos burocratas

nas histórias dos triunfos

nos arcos triunfais fungados

 

aqui se fungam os tempos, as horas

e na unha o fungo se edifica

pois se funde ao resfriado

do ser e das almas vitoriosas

 

 

(um lenço, por favor, para assoar!

e para a unha infectada, por favor,

pasta de erva ou esmalte para sair desta furna.

 

que praga este fungo enfurnado em tudo!

fungo sem data!

quem se lembra de onde veio?

depressa, tragam fungicida!

 

a vizinha me trouxe um remédio.

o fungo desapareceu por uns dias,

mas do que adiantou se provocou irritação?

 

um lenço, por favor, para assoar!

e para a unha infectada, por favor,

um enlevo esmaltado para esta mentalidade daninha)

 

Do livro Água Fria (em elaboração)