Fragmentos ubíquos
Por Cunha e Silva Filho Em: 24/08/2014, às 11H16
Cunha e Silva Filho
A primeira notícia que me ocorre agora é a morte de um jovem negro americano em Ferguson, cidade americana, dizem que pequena. Falam que erra assaltante, mas isso não justifica a ação brutal de um policial banco que lhe dá um tiro mortal. O incidente me traz à mente os anos terríveis do racismo americano, as segregações de todos os lados, até nos ônibus. Ao mesmo tempo, me vem à lembrança a luta gloriosa de Martin Luther King, trágico herói negro americano. Inteligente, corajoso, determinado, foi ele próprio vítima covarde de uma bala assassina. Percebo, em pleno segundo mandato do presidente Obama, ele mesmo um quase negro, alguma forma tardia de retrocesso entre brancos e negros americanos. Negro pobre – vale melhor afirmar – que não é celebridade nem possuidor de milhões de dólares do capitalismo em país ainda com sérios problemas de miséria.
Um outro quadro que me assusta, não nos EUA apenas, mas no Brasil, em São Paulo, se não estou certo. É este: a polícia tende, no mundo pós-moderno, a ser cada vez mais poderosa no que concerne a armamentos e força de repressão. Não vejo com bons olhos tantos gastos para equipar-se um “exército” de policias com tantos poder de fogo, até mesmo superior às Forças Armadas brasileiras. A máquina do Estado Moderno não quer contestações, greves, protestos. Seu desejo é que o rei nu seja “visto” como se estivesse sempre vestido. Nada de manifestações, boca calada, “não se meta nisso, que você é coisa pequena diante dos poderosos." Esta me parece a voz do diktat. Privatizou-se a privacidade. O Big Brother mantém, vigilante, todas as portas de saída. Estamos emparedados como naquele texto famoso do poeta simbolista brasileiro Cruz e Sousa.(1861-1898).
Se é que toda essa parafernália de força é para ser empregada em manifestações populares contra os erros do poder nacional, estadual ou municipal, até para indicar que tudo isso só serve para tornar o cidadão comum ainda muito mais receoso de reivindicar seus direitos civis, sinto arrepios de imagens fantasmagóricas de um mundo onde só a repressão tem lugar e nenhum direito pode ser posto em discussão. Diante da truculência da nova imagem dos uniformes de policiais, armados até os dentes, tem-se a sensação de um remake das legiões romanas com mil vezes mais capacidade de derrotar qualquer oposição ao diktat do Estado Moderno, um Leviatã com cores nazi-fascistas. Que Deus nos livre disso tudo.Todo esse gasto repressor de uniforme policial à prova de fogo, que custa milhões aos cofres públicos, poderia ser canalizado para a formação de jovens com saúde moral, cívica, patriótica e o pensamento distante da sedução das drogas. Não estamos precisando de soldados truculentos, robotizados e gélidos. Precisamos, sim, de policiais humanos, valentes, corajosos, educados que, usando a palavra firme possam ajudar os desprotegidos da tirania do Estado repressor.
Preparar policiais para combater manifestantes desarmados é tudo o que a cidadania brasileira repudia. Por que não destacar esse tipo de policiais para enfrentar as gangs poderosas que andam apavorando todo esse país e sobretudo os mais fracos? Não é a ostentação robótica de policiais que vai mudar a alta violência das ruas e dos lares brasileiros. Constato, contudo, que no Ocidente e em países comunistas e poderosos, como a China, a Coreia do Norte, não vejo nenhuma diferença entre o que aqui se está implantando no tocante a forças policiais de alta repressão contra a sociedade.
Continuam as guerras na Faixa de Gaza, entre o grupo Hamas, considerado terrorista e os israelenses. O mundo parece que, através de seus organismos de segurança internacionais, está de mãos atadas Já estou cansado de ouvir tantas notícias de negociações que não têm conduzido a quase nada, pois os conflitos continuam a desafiar a humanidade.De igual maneira, persistirem os conflitos no Iraque, na Síria, na Ucrânia, enquanto as três potências EUA, China e Rússia se sentem desafiadas e, enfrentando a Rússia, as retaliações dos EUA e da União Europeia em forma de sanções econômicas.
No Brasil, mudando o assunto, a Propaganda Eleitoral Gratuita mostra a sua cara em forma de comédias de erros e de pantomima. Nesta comédia tudo vale: a desqualificação de grande parte dos candidatos, que nos envergonham como país, e a form a publicitária dos grandes partidos apregoando suas ideias, seus feitos e suas empulhações que, a se confiarem nelas, o telespectador seria subliminarmente levado a estar vivendo no país paradisíaco em que tudo está funcionando às mil maravilhas, desde a educação pública, a saúde, a segurança até o bem-estar geral da pátria amada. Chega a ser histriônico que um candidato a presidente da República venha a dizer que, em seu governo, caso se eleja, o conjunto de auxiliares pode vir de qualquer partido.
Ora, como isso pode dar certo se ele chamar um comunista, um centrista, um direitista, um anarquista para compor a unidade político-estrutural do seu governo? Alega o candidato que o importante é que o convidado a exercer uma função relevante seja pessoa preparada. Ora, se isso fosse possível, então o seu programa de governo não teria uma marca própria, seria um baú de tudo, do bom e do ruim, o que tornaria seu governo uma colcha de retalho. Ainda por cima, cumpre assinalar que nem todos os que são competentes são moralmente recomendáveis a cargos públicos. Em resumo, o eleitor está tão perdido no meio de coligações disparatadas com diferentes orientações ideológicas que, ao chegar às urnas, será acometido de confusão mental.
Em meio a tantas notícias desagradáveis que tenho ouvido aqui e no exterior, meu único refúgio, ainda que por alguns instantes diários, é a literatura, o ler e o escrever, os estudos de línguas que faço para aperfeiçoar-me até onde possa a fim de não as esquecer, o convívio com a minha família, alguns poucos amigos, dar uma passeio e tocar a vida que ainda me sobra...