(Miguel Carqueija)

O Japão é um país impregnado de folclore.

FOLCLORE JAPONÊS EM MANGÁS E ANIMÊS


    O rico folclore japonês — sendo o Japão uma civilização antiquíssima e que teve, inclusive, a sua Idade Média — influencia muito na criação de mangás e animês. Criaturas fantásticas povoam o imaginário daquele país arquipelágico.
    As youmas, por exemplo, surgem em “Sailor Moon”, de Naoko Takeushi, e "Claymore”, de Norihiro Yagi; os youkais dão a tônica em “Inuyasha”.
    A tradição da raposa — ligada a poderes fantásticos — aparece no primeiro episódio daquele filme maravilhoso de Akira Kurosawa, “Sonhos” (1990).
    Lendo mangás, assistindo animês, volta e meia deparamos com nomes curiosos, conceitos estranhos, criaturas fabulosas e próprias das tradições japonesas.
    Em “Sailor Moon”, youmas são demônios que possuem corpo, que se materializam em nosso mundo por chamado de invocadores malignos como os “caçadores da morte”. Em “Claymore” são monstros antropófagos dotados de imensa força. Os “youkais” são seres fantásticos geralmente hostis aos humanos; Inuyasha (criação de Rumiko Takahashi) é um meio-youkai (“hanyou”), filho de mãe humana.
    Outras criaturas estranhas do folclore nipônico aparecem profusamente em “Rosário e vampiro”, de Arihisa Ikeda, como a mulher da neve, presente também no já citado filme “Sonhos”.
    Falemos de “Ga-Rei”, uma incrível história de Hajime Segawa, e que chega às bancas brasileiras em seu quarto volume, pela JBC. A história fala na maldição da “raposa de nove caudas”, recorrência folclórica japonesa, uma “fera espectral” que, segundo o mangá, surgiu em Kyoto em 1140 provocando grande destruição; e teria gerado outras feras ou ga-reis como o Byakuei, afinal controlado pela família Tsuchimiya, herdado enfim por Kagura, a jovem heroína mística da série.
    Outro elemento folclórico do “Ga-Rei” é a sesshôseki ou “pedra da morte”, que pode ajudar no controle de uma fera espectral ou pode dominar a pessoa, levando-a para as trevas, como aconteceu com Yomi, irmã de criação de Kagura. No volume 4, Kagura, personagem que representa a bondade e a nobreza de sentimentos, se questiona por não saber o que é o amor (já que está absorvida pela sua missão) e por sua prisão ao Byakuei, a fera espectral a ela ligada por uma corrente espiritual. A análise de Kagura mostra uma das mais fascinantes criações dos quadrinhos, em meio a uma ambientação impregnada de folclore japonês. Mas, além disso, a trama se envolve agora com o submundo das máfias japonesas.
    Mais uma vez, Tsuchimiya Kagura mostra que a bondade é mais importante que tudo, ao salvar a vida de Shizuru, sua inimiga declarada, fato esse que trará consequências para o desenrolar da saga.