ENTREVISTADO:

Rogel Samuel

Entre-textos - Como nasceu, escritor, a idéia de construir este romance?
Rogel - A minha intenção inicial era escrever sobre Eduardo Ribeiro, governador do Amazonas. Cheguei a escrever vários capítulos, que se perderam. Dele pouco se sabe. 

Entre-textos - O Teatro do Amazonas é o tema de seu romance de mesmo nome. O Teatro foi construído no final do século XIX. Que tempo é esse na narrativa de Teatro do Amazonas?
Rogel - Procuro reconstruir o ambiente da época, ou pelo menos na minha imaginação. É um tempo romanesco.

Entre-textos - O romance histórico é resultado não apenas do talento do escritor em escrever ficção, mas também de pesquisa. Quais as fontes de pesquisa em que o senhor mergulhou e que foram decisivas na construção de espaços, personagens e da própria trama?
Rogel - Foram decisivas algumas fontes, como os livros de Fileto Pires Ferreira, Thaumaturgo de Azevedo e Eduardo Ribeiro, que quase ninguém leu. Além de Mário Ypiranga e Genesino Braga.

Entre-textos  - Um dos protagonistas do romance é Fileto Pires Ferreira, piauiense, que governou o Amazonas. Em linhas gerais, como é o Fileto personagem? Por que ele figura como um dos protagonistas?
Rogel - Fiquei impressionado com o livro de Fileto "A verdade sobre o caso do Amazonas", muito bem escrito. Descobri que, apesar de só governar 19 meses, foi o grande governador de sua época e de todos os tempos no Amazonas. Descobri também que ele é esquecido e injustiçado.

Entre-textos - Por que Fileto Pires Ferreira seria um injustiçado na história do Amazonas?
Rogel - Sim, um injustiçado. Era honesto, empreendedor e romântico. Aliás, ainda estávamos no Romantismo, no Amazonas. Fileto amava tanto o Amazonas que seus três filhos tiveram nome de índio.

Entre-textos - Pesquisando para construir o romance, o senhor descobriu bastante sobre Fileto e também sobre o piauiense Taumaturgo de Azevedo, outro personagem que integra o enredo. Que informações descobertas sobre essas figuras foram motivo de encantamento?
Rogel - Thaumaturgo foi um herói nacional, mas reconhecido ainda hoje. Governou o Piauí e o Amazonas. Não foi esquecido, como Fileto. Entretanto, não há uma rua ou escola em Manaus com o nome deles. E pouca gente sabe que foi Thaumaturgo quem traçou o plano da cidade de Manaus.

Entre-textos - No século XIX, os romances históricos eram declaradamente nacionalistas. Já no século XX, passaram a agregar elementos psicológicos e a voltar-se para as mentalidades em relação ao passado. Qual precisamente o viés de o "Teatro do Amazonas"? A missão dele é reinterpretar o passado?
Rogel - Não sei, ao sabor da pena, não tenho distan-ciamento estético para saber. Só sei é que é algo que estava há muito dentro de mim, e que há muitos anos precisava sair de mim. O viés é pessoal. É um ajuste de contas comigo mesmo, está nas minhas entranhas, no meu sangue.

Entre-textos  - A publicação dos capítulos ocorre gradativamente em Blocos online, em seu site e no site Entre-textos. O que muda na recepção da obra, em sua análise, quando ela é publicada dessa forma e na internet?
Rogel - Acredito na Internet, creio que por aí se vai encontrar o futuro. O atual governo pretende instalar dezenas de milhões de computadores nas escolas de primeiro e segundo grau, com Internet banda larga. Se não me engano serão 37 milhões. Você pode imaginar o que isso vai significar em número de leitores novos, de futuros leitores. Em breve, cada romance como o meu, publicado na Internet, terá não mais milhares de leitores, mas alguns milhões.