SESSÃO NOSTALGIA

NOTA:

ESSE  ARTIGO  AINDA É PERFEITAMENTE VÁLIDO PARA O MUNDO CONTEMPORÂNEO. ele fará parte dome  livro 

IN DEFENCE OF THE WORLD PEACE

(with some texts in French)

FIM DE GOVERNO NÃO É ABSOLVIÇÃO  DE CRIMES

                                                                                             Cunha e Silva Filho

No mundo da política  - e aqui se entenda política com  “p” minúsculo e válido para todos os  povos - , os erros e crimes de governantes, do mais simples vereador até ao presidente da República, parecem  mesmo acabar com o final de seus  mandatos. Todos os absurdos cometidos na administração anterior, em  geral, são esquecidos ou não  são investigados. As denúncias são feitas. As investigações  dizem que serão  apuradas. Nas instâncias da justiça, da parte dos denunciantes que  tomam posse e da parte dos denunciados que deixam os cargos,  cada lado  afirma  estar com  a razão. O tempo passa.. O fato é esquecido. A memória  do povo é curta e, daí a algum tempo,  tudo  se apaga e a vida continua  dentro da sua aparente normalidade e  rotina.

Tem sobeja razão Paul Krugman,  colunista do  The New York Times, ao escrever o pequeno (também não sei se foi condensado na tradução brasileira) e significativo artigo “Perdoar e esquecer” (Jornal do Brasil, 17/01/2009.  Lembra Krugman que, a uma pergunta dirigida ao presidente eleito Barack Obama sobre o que ele pensava da possibilidade de investigar possíveis crimes dos dois mandatos de  Bush, filho, ele respondeu que “(...) ninguém está acima da lei (...)” Entretanto, a  sua conclusão

 diz mais do aquelas palavras: “(...) mas precisamos olhar para frente em vez de olhar para trás.”

Krugman, em seguida,  relaciona alguns  atos  ilegais e escandalosos consolidados pelo governo do presidente  que está saindo: sonegação de dados acerca da guerra do Iraque, perseguições políticas, política ambiental distorcida e contrária à saúde ambiental do planeta, favorecimento a  apaniguados incompetentes para  determinados cargos no governo, descumprimento das decisões a respeito da reconstrução do Iraque, além  de recusa a  prestar contas do dinheiro destinado   a esta última finalidade, uso de grampos ilegais e torturas sob falso pretexto  de uma “orquestrada” política de segurança nacional, fazendo tábula rasa dos direitos humanos  internos e  de esquizofrênica   vigilância  contra imigrantes,  recrudescida sobretudo a partir do fatídico 11 de setembro.

Em suma,  as ações do governo convergiram enormemente para soluções que apontariam  a administração  Bush, filho como um dos mais sombrios capítulos  vividos pela política externa americana,  manchada pelo desrespeito aos valores ético-democráticos  e pela corrupção interna,  desperdício  maciço de  verbas astronômicas  com os conflitos  bélicos  no Afeganistão e principalmente com a guerra do Iraque, e com  os gastos  ciclópicos  necessários à manutenção de tropas das três armas, nesse país  a que imputo em parte  a  vergonhosa crise financeira do país que simbolizava  a pujança do maior poder financeiro mundial.

Aproveitando-me do  título do colunista americano, indago  de minha parte: como  “perdoar” erros, abusos  do governo,  perjúrios e crimes praticados  contra os próprios americanos e a humanidade? Como “esquecer” as violações constantes dos direitos  do cidadão americano, e especialmente  o desrespeito a organismos  internacionais  que, bem ou mal, buscaram admoestar o   governo  do Bush, filho sem que deste houvesse a mínima consideração aos fóruns internacionais?

A política americana do Bush filho foi, a meu ver,  uma das mais discricionárias e genocidas por que passou a história dos EUA. Que moral ou dignidade teria esse presidente impopular e odiado por inúmeros países para ter podido exercer por duas vezes a presidência  conduzindo a sua administração pelo mau exemplo  de uma das mais prepotentes políticas externas já vistas?

Sua  política não passou de um  arremedo de democracia, de um simulacro do exercício  da liberdade. Agiu como tirano com respeito ao Afeganistão e ao Iraque. Sua  paranoia,  no que concerne à segurança  interna, chegou às raias da  insanidade, vendo inimigo em todos e em tudo, especialmente simbolizada na figura de Bin Laden ou tudo que lhe parecia terrorismo. Como um  povo se engana votando duas vezes numa figura tão sombria, tão despreparada  para as altas  tarefas da presidência de um país do porte dos Estados Unidos! De que maneira “esquecer”, leitor, tanta carnificina, bombardeios,  demonstração megalomaníaca de  poder bélico?

Por isso,  concordo com  Paul Krugman: é preciso que o culpado seja punido, assim como todos os que lhe diziam amém às atrocidades que levaram tantos jovens americanos aos conflitos armados no Oriente. Jovens militares americanos mortos e mutilados pensando que estavam no “front” para defender sua  pátria, quando, na realidade,  ali estavam com  os cérebros  lavados, a fm de os tornarem alienados, prontos para morrer pela  “democracia’ do Bush, filho.

Esquecer e perdoar? Nunca! . Investigar? Sim, e  sempre, e em qualquer parte., sob pena de    cooptação da tirania e da soberba. Esperamos que Barack Obama seja mais reflexivo e não deixe escapar essa oportunidade  que o povo americano pelo voto outorgou-lhe a fim de  tornar os EUA um país digno de seus mais influentes fundadores, a começar de George Washington.

Barack Obama  tem, mais do que ninguém,  o dever cívico e patriótico de remodelar a nação americana segundo critérios que levem em conta a reabilitação  da imagem de um  país que seja, na práxis, verdadeiramente democrático, de um país solidário com as nações  oprimidas e de um Estado sem laivos de imperialista,  cuja principal prioridade seria, na esfera mundial,   a de, pela paz e pela lei,  respeitar os organismos internacionais e seus  princípios  asseguradores  do direito e da soberania  dos povos. A busca  da paz na  Terra não poderá nunca ser apenas uma utopia. Ai de quem não sonhar com ela!