[Maria do Rosário Pedreira]

Ao longo dos tempos, têm sido publicados muitos livros que incluem a correspondência trocada por famosos ou ilustres, sejam eles políticos ou escritores. Essas cartas permitem normalmente perceber a posteriori tomadas de posição ou decisões que passaram a fazer parte da História (as de Churchill, por exemplo) ou são «tão-só» belíssimas peças literárias que têm ainda o condão de satisfazer a nossa curiosidade sobre a vida pessoal ou as ideias dos seus autores. E, contudo, com o desenvolvimento das novas tecnologias, as pessoas deixaram positivamente de se corresponder, aproveitando as numerosas vantagens do correio electrónico, entre elas a rapidez com que chega ao destino. Mas isso mudou profundamente o uso da linguagem, tornando as nossas actuais mensagens, na generalidade, bastante pobres em estilo e vocabulário e fazendo desaparecer as velhas cartas e postais que trocávamos com a família, os amigos e os namorados. Não creio, enfim, que se possam vir a publicar os e-mails e SMS dos grandes homens e mulheres do mundo em substituição da antiga correspondência. Talvez os romancistas se dediquem então à epistolografia nas suas obras, mas as cartas ficcionadas não terão o mesmo interesse histórico e dificilmente satisfarão a nossa curiosidade relativamente ao carácter e às posições dos «remetentes»... Bem sei que a velocidade a que vivemos hoje nos obriga a um certo pragmatismo, mas tenho pena de que nada fique para a posteridade que valha realmente a pena reler.