Fernando Pessoa: “English sonnets, XVII”



Sonnet XVII


MY LOVE, and not I, is the egoist.
Mlove for thee loves itself more than thee;
Ay, more than me, in whom it doth exist,
And makes me live that it may feed on me.
In the country of bridges  the bridge is
More real than the shores it doth unsever;
So in our world, all of Relation, this
Is true – that truer is Love than either lover.
This thought therefore comes lightly to Dooubts’s door –
If we, seeing substance of this world, are not
Mere Intervals, God’s Absence and no more,
Hollows in real Consciouness and Thought. 
        And if ‘tis possible to Thought to bear this fruit,
        Why should it not be possible to Truth?


Soneto XVII

MEU AMOR, não eu, o egoísta é.
A ti meu amor ama mais a si próprio que a ti;
Sim mais do que, no qual realmente existe,
Viver me faz a fim de que possa de mim nutrir-se.
No país das pontes a ponte é
Do que as praias que o unificam mais verdadeira;
Destarte, em nosso mundo, no qual tudo se une a tudo, isso
Verdadeiro é – do que dois amantes mais genuíno o Amor é
Portanto, suavemente vem até da Dúvida a porta este pensamento –
Pois nós, deste mundo a substância vendo, não somos mais do que
Simples Intervalos, a Ausência de Deus e nada mais,
Da legítima consciência e do Pensamento Vazios.
          E se possível for ao Pensamento este fruto gerar,
         Por que não deveria possível ser a Verdade alcançar?

                                                            ( Tradução de Cunha e Silva Filho)