Fernando Pessoa: "Sonnet V"
Por Cunha e Silva Filho Em: 29/10/2009, às 18H10
Cunha e Silva Filho
Volto, leitor, aos “English sonnets,” desta vez com a tradução do “Sonnet V. ” Veja abaixo:
Sonnet V
HOW CAN I THINK, or edge my thoughts to action,
When the miserly press of each day’s need
Aches to a narrowness of spilled distraction
My soul appalled at the world’s work time-greed?
How can I pause my thoughts upon the task
My soul was born to think that it must do
When every moment has a thought to ask
To fit the immediate craving of its cue?
The coin I’d heap for marrying my Muse
And build our home i’th’ greater Time—to-be
Becomes dissolved by needs of each day’s use
And I feel beggared of infinity,
Like a true-Christina sinner, each day flesh-driven
By his own to forfeit his wished heaven.
Soneto V
COMO PENSAR POSSO, ou em ação meu pensamento transformar
Se a pressão mesquinha da diária necessidade
Anseia pela carência de maiores distrações
E minh’alma se assusta com a avidez do tempo de trabalho do mundo?
Como interromper posso sobre as minhas obrigações meus pensamentos
Quando minh’alma nasceu com o pensamento de realizá-l
Quando, a todo instante, a questionar tem um pensamento
A fim de se ajustar ao anelo imediato de sua sugestão?
As moedas que acumularia para minha Musa desposar
E nosso lar formar num Amanhã mais grandioso
Se tornam nulas com as necessidades do seu diário uso
Assim, me sinto na orfandade da infinitude
Qual pecador, autêntico cristão, a cada dia da carne escravo
Em face de, pelo próprio ato, no céu perder, por castigo, a desejada vez.