Fernando Pessoa: "Sonnet IX"
Por Cunha e Silva Filho Em: 19/11/2009, às 15H50
Fernando Pessoa: “Sonnet IX
Cunha e Silva Filho
Leitor, segue a tradução de mais um soneto pessoano. Veja-a:
Sonnet IX
OH TO BE IDLE loving idleness!
But I am idle all in hate of me;
Ever in action’s dream, in the false stress
Of purposed action never act to be.
Like a fierce beast selfpenned in a bait-lair,
My will to act binds with excess my action,
Not-acting coils the thoought with raged despair,
And acting rage doth paint distraction.
Like someone sinking in a treacheroous sands,
Each gesture to deliver sinks the more;
The struggle avails not, and to raise no hand,
Thought but slowly useless, we’ve no power.
Hence live I the dead life each day doth bring,
Repurposed for next day’s repurposing.
Soneto IX
AH, INDOLENTE SER a indolência amando!
Sou, porem, indolente pelo simples ódio contra mim mesmo;
Na pressão falsa em atividade o sonho sempre
Da ação como alvo sem alvo ser.
Tal qual uma fera indomada presa numa toca-isca,
Cola-se por excesso a minha vontade de ação à minha ação,
E a ativada ira, na realidade, do desespero o transtorno retrata.
Como alguém se afundando, mais se afunda;
De nada vale a luta ou a mão erguer,
Quanto mais lento o pensamento, mais inútil, força não temos.
Daí, a cada dia que, firme passa, a vida morta viver,
Tudo retomar para, a cada dia, uma retomada.