Fazenda Gado Bravo - Baixa do Coco
Por Reginaldo Miranda Em: 10/01/2017, às 18H01
As origens da cidade de São Gonçalo do Piauí, remontam ao ano de 1735, pouco mais ou menos, quando o português José Pereira de Araújo ali fincou a caiçara de seus currais, dando início ao povoamento do lugar.
A fazenda tomou o nome de Gado Bravo, certamente em alusão à natureza dos animais ali amanhados, sendo, porém, dada em sesmaria somente em 29 de dezembro de 1743, a Clara Pereira de Araújo, filha do colonizador, que a descobriu e povoou. Segundo consta na mencionada carta de sesmaria, possuía a seguinte descrição: “Gado Bravo – Data com três léguas de comprido e uma de largo, correndo pelo Riacho Fundo acima ao sertão da fazenda das Almas, fazendo pião na lagoa”. Esta carta de sesmaria representa a certidão de nascimento da fazenda e da povoação.
José Pereira de Araújo permitiu que a fazenda fosse concedida à filha porque possuía outras duas de iguais dimensões: Todos os Santos, com três léguas de comprido e meia de largo, arrematada em praça por falecimento de Manoel de Abreu de Melo; e, São João do Mocambo, com uma légua em quadra, comprada a Claribônio Manoel de Lima. Também, seu filho primogênito Gaspar Pereira de Araújo possuía as fazendas Morros, Angical e São Pedro, de forma que a Gado Bravo foi ponto de partida para a colonização de grande parte do Médio-Parnaíba.
Segundo consta em recenseamento descritivo finalizado em 29 de maio de 1763, naquele tempo a fazenda Gado Bravo já era uma pequena povoação com dezenove moradores, entre os quais a família dos proprietários e nove escravos.
Entretanto, outra data importante na evolução histórica da povoação foi o ano de 1812, quando o cearense Joaquim Barbosa Ribeiro, casado em 10 de fevereiro daquele ano com uma descendente dos proprietários, fixou residência no lugar Baixa do Coco, da mesma fazenda, distante menos de meia légua da sede, fundando novos currais independentes daqueles, onde situou seu rebanho e prosperou no criatório vacum. Em pouco tempo esse fazendeiro torna-se importante liderança política, ocupando os cargos de juiz de paz(1834-1835) e vereador do antigo município de São Gonçalo, hoje Regeneração(1839-1841), entre outros. Com o tempo o eixo de desenvolvimento, embora lento, foi se deslocando para a nova localidade, de forma que Baixa do Coco supera Gado Bravo.
No final desse mesmo século representava aquela região na Câmara Municipal de Regeneração o cidadão Antônio Faustino de Sousa, 2º juiz de paz(1883-1887) e vereador(1887-1890). Na sessão de 13 de janeiro de 1887, ele representou à “câmara, que, havendo somente um riacho denominado ‘Baixa do Coco’, cujo riacho é o único que banha a Fazenda ‘Gado Brabo’ onde é ele fazendeiro e proprietário, e diversos proprietários e respectivos agregados pelo tempo do verão, com o fim de refrescarem os terrenos ou suas plantações têm feito tapagens em diferentes pontos do referido riacho, que resulta a estagnação das águas impedindo assim o livre consenso delas; e esta privação tem dado prejuízo aos criadores daquela fazenda. Disse mais que o riacho é por natureza muito fraco, porém se cessasse tal abuso certamente conservaria durante o verão bastante água para o abastecimento de todos, e os criadores não sofreriam prejuízos; e que portanto na qualidade de interessado faz ciente tais ocorridos à câmara a fim de providenciar que desapareça tal abuso. A câmara deliberou, ordenando ao mesmo vereador Sousa que em vista deste desmando na fazenda que trata em sua declaração, tratasse de observar aqueles que têm procedido da forma declarada que a câmara não consentia absolutamente tais abusos em seu município, sob pena de ser multado aquele que assim praticasse e se cujas observações não forem suficientes para evitar semelhante mal o mesmo vereador faça constar à câmara ou a seu fiscal, a fim de tomarem as deliberações necessárias”.
No entanto, com o alvorecer do novo século a localidade vai ganhando aspecto de povoação, com a chegada de novos moradores advindos tanto da região quanto de outros estados, sobretudo do Ceará. Na segunda metade da década de quarenta foi iniciada a construção da capela da Santa Cruz, padroeira do lugar. No entanto, depois de alguns anos paralisada foram as paredes concluídas e coberta a mesma de palhas, sendo nela celebrada a primeira missa em 14 de setembro de 1951, durante as festividades religiosas da povoação. Até então, quando das visitas pastorais, eram as missas celebradas em casas particulares(Livro Tombo n.º 2, p. 14v).
Continuando a marcha de progresso alcançou sua autonomia administrativa pela Lei Estadual n.º 2511, de 30 de novembro de 1963, sendo instalado oficialmente em 30 de março de 1964. O projeto de lei foi de autoria do deputado Alfredo Alberto Leal Nunes, sendo o território desmembrado do Município de Regeneração. A denominação de São Gonçalo do Piauí foi dada pelo ex-deputado Gonçalo Teixeira Nunes, líder político na região, em homenagem ao santo de seu nome.
* A fotografia que ilustra a matéria é da igreja da cidade.
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* REGINALDO MIRANDA, autor de diversos livros e artigos, é membro efetivo da Academia Piauiense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí e do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-PI. Atual presidente da Associação de Advogados Previdenciaristas do Piauí. Contato: [email protected]