Faustino 90 anos
Em: 22/10/2020, às 10H45
[Tarso de Melo]
Nesta semana, em 22 de outubro, o poeta Mário Faustino (1930-1962) completaria 90 anos, não tivesse sido vitimado por um acidente de avião quando tinha apenas 32 anos. Não sei se alguém vai comemorar seu aniversário, mas deveríamos – muito. O que Faustino fez, em quantidade e qualidade, pelos leitores de poesia – como poeta, crítico e tradutor – é algo colossal.
Estou aqui fazendo uma pesquisa sobre poetas que escreveram sobre seu processo criativo e, conversando com amigos, o nome de Faustino apareceu várias vezes. Corri pra estante e estou desde cedo passeando por suas páginas com a mesma admiração – ou até mais! – com que li cada um desses livros quando foram caindo nas minhas mãos.
Como diz Augusto de Campos (num texto essencial chamado “Mário Faustino, o Último Versemaker”, de 1967, hoje republicado em “Poesia antipoesia antropofagia e cia.”), «a honesta e competente batalha poética que [Faustino] travou, de fronte erguida e peito aberto, merece ser vista e meditada. E é de esperar, também, que em breve sejam coligidas suas traduções, as críticas e comentários que escreveu com “verve” impressionante, garra e lucidez, “vigor e rigor”, e que constituem o aspecto mais vivo, mais agressivo e atual de sua rica e generosa personalidade, ainda tão desconhecida.»
Faustino tinha publicado apenas um livro de poemas em vida, “O homem e sua hora”, de 1955, mas, depois de sua morte, o esforço dos amigos, especialmente Benedito Nunes, conseguiu transformar em livros boa parte do seu trabalho. Durante muito tempo, o leitor de Faustino corria atrás desses dois raros volumes: “Poesia-Experiência” (1977), da Perspectiva, e “Poesia Completa Poesia Traduzida” (1985), da Max Limonad.
Mais fácil de achar era apenas “Os melhores poemas de Mário Faustino” (1985), da Global, também organizado por Benedito Nunes, que tem diversas reedições até hoje. No início dos anos 2000, a Companhia das Letras deu início à publicação da obra completa de Mário Faustino, organizada por Maria Eugenia Boaventura. Dos 5 volumes previstos, apenas 3 saíram: uma edição ampliada de “O homem e sua hora” (2002), que também circula em edição de bolso; “De Anchieta aos concretos” (2003) e “Artesanatos da poesia” (2004).
Ainda não saíram “Roteiro poético” e “É preciso conhecer”, que reunirão os textos restantes de sua famigerada coluna no Jornal do Brasil. Espero que sejam logo publicados, porque Faustino é uma injeção de inteligência mais do que necessária. Aliás, os 90 anos do poeta, mesmo neste 2020 tão terrível, são uma ótima ocasião para retomar esse projeto!
Tarso de Melo é poeta, ativista cultural e professor de Escrita Criativa. Reside em São Paulo, onde desenvolve projetos de divulgação de poesia.