ELMAR CARVALHO

 

Na sexta-feira à tarde, passei em uma das mais afamadas farmácias de Teresina, exibi a receita, e perguntei se tinham o medicamento nela indicado, pois desejava adquiri-lo pelo programa Farmácia Popular. O atendente disse ter o produto, mas que o sistema do programa estava fora do ar. Aconselhou-me a retornar no dia seguinte. Sem queixas, aceitei a recomendação. Dezenove horas depois, retornei à mesma farmácia. Para meu desencanto, segundo o rapaz, o sistema continuava sem funcionar. Como eu gemesse alguma queixa, o atendente disse que a farmácia em que trabalhava não tinha culpa, porquanto o sistema não era da firma, mas do governo.

 

Dirigi-me, então, para a farmácia de uma outra rede, por sinal não menos poderosa e afamada. O vendedor disse que não tinha o medicamento referido naquele momento, mas dentro de duas horas ele estaria disponível. Fui com minha mulher fazer umas compras de supermercado, e retornei no prazo estabelecido. Já temendo outra decepção, dirigi-me ao mesmo atendente, que disse não ter o remédio da marca solicitada, mas apenas um “genérico”. Ante o inelutável e não desejando aborrecer-me, aceitei a imposição. O rapaz me pediu o RG e o CPF, preencheu uns formulários, e pediu-me fosse ao caixa efetuar o pagamento.

 

Segui em frente. Minha intuição me dizia que algo de errado ainda poderia acontecer. E aconteceu. Quando eu menos esperava, a moça que me atendeu disse que o bendito “sistema” estava fora do ar. Desta feita, contudo, quem ficou fora do ar fui eu. Dirigi-me aos vários clientes da fila, e lhes pedi para contar uma rápida história. Alguns me olharam com certa perplexidade, achando, talvez, que eu fosse pedir algum donativo. Após narrar essa odisseia que acabo de lhes contar, fiz estas singelas perguntas, tentando conter a voz e manter a calma o máximo que pude:

- E se eu fosse um pobrezinho, que tivesse feito essa peregrinação em um ônibus, ou pedalando uma bicicleta? Se o “sistema” não funciona, por que criaram essa tal farmácia popular, que passa mais tempo fora do que no ar?

 

Um homem, de aspecto humilde, que estava na fila, respondeu-me com a simpatia da solidariedade:

- Se o senhor fosse um pobrezinho, talvez já tivesse morrido...

Agradeci pela atenção e fui embora. Nada desejo acrescentar ou comentar. Deixo que o leitor faça o seu próprio julgamento, usando do critério da empatia, colocando-se em meu lugar, imaginando que esses fatos tenham acontecido consigo mesmo. Acrescento apenas isto: não posso dizer que gostei dessa experiência.