[Raimundo Carrero]
 
Quando terminei de escrever Maçã Agreste, em 1988, senti a necessidade de debater a criação de um romance com meus amigos e com futuros leitores. Foi um romance que exigira imenso trabalho porque procurei uma língua para cada personagem e um conjunto narrativo ''há quem chame bloco narrativo'' para cada um deles. Acabara de descobrir a individualidade de cada criatura ficcional sem perder a unidade e a harmonia da obra.
 
A isso chamava e chamo - de montagem da história, uma técnica que o cinema desenvolve com grande capacidade. Tudo isso estudado a partir do ensaio de Autran Dourado ''Uma poética de romance'' matéria de carpintaria -, em que o escritor mineiro revelava a constrição dos seus romances e indicava caminhos. Sem esquecer que naquela época, eu imprimia forte dose armorial nos meus escritos, herança que estava vindo do meu sempre mestre Ariano Suassuna, com quem tive uma grande convivência.
 
Um tempo de inquietação e aprendizagem. Sempre aprendi muito com Ariano e o que aprendi é eterno. Aliás, a abertura do meu romance Maçã Agreste recupera uma das conversas que tínhamos à tarde na ampla sala do Palácio Armorial de Casa Forte até porque o personagem Jeremias teria, como tem, o meu ritmo interior.
 
Gastei horas de estudo e noites em claro para aprender a montagem de um romance. Alguns esclarecimentos breves vieram com dois livros que considero essenciais: Orgia Perpétua, de Mario Vargas Llosa, e Aspectos do Romance, de E. Forster, alguns críticos o chamam de ''livrinho''. Vieram, então, os estudos de Aristóteles, Kant e Hegel. Inevitável. O estudo da estética tornou-se inevitável.
 
Criei a Oficina de Criação Literária para o estudo na intimidade do romance ou da prosa ficcional. Nunca me passou pela cabeça a criação de uma estética do romance. Cheguei a uma possível ''Didática da Criação'', estudando desde a ideia até conclusão do romance.
 

A materialização de tudo isso veio com o livro Os segredos da ficção, escrito por solicitação ao editor Paulo Roberto Pires, da Ediouro. Apenas dei forma às apostilas que escrevi para meus alunos, seguido de A Preparação do Escritor, escrito a partir de uma oficina que fiz para o Portal Literal, do Rio de Janeiro.