Apesar de parecer um exercício de idiotia – e, talvez, no fundo haja sido -, a operação o divertiu deveras.
     Era por volta das dez horas da manhã, o trânsito fluía com muita tranquilidade, quando adentrou a Avenida Dom Severino no sentido leste-oeste. Como costumava fazer sempre, contrariando, geralmente, a opção de muitos, tomou a pista central, das três de que dispõe cada lado daquele logradouro, deixando a da direita para coletivos e veículos pesados e a da esquerda para ultrapassagem ou aos que precisavam trafegar em velocidade mais alta.
     Fato interessante foi que, por alguns instantes, fora o único a trafegar naquela pista; também não cruzou nem ultrapassou ônibus ou caminhão transitando pela banda de rodagem à direita. Na pista de maior velocidade, a da esquerda, andando como tartarugas, naquele momento, estavam todos os veículos que seguiam no mesmo sentido e direção que o dele, de leste para oeste. Esse cortejo ou falso comboio aconteceu em um percurso de mais ou menos dois quilômetros, entre a Av. Presidente Kennedy e a Nossa Senhora de Fátima. Decidiu, pois, aproveitar a falta de educação no trânsito daqueles condutores para, irresponsavelmente, engendrar uma espécie de diversão perigosa.
     Manteve-se na via escolhida. Vez em quando um dos veículos que circulavam na pista à esquerda sinalizava que queria entrar na em que se encontrava; então, buzinava, acelerava, enfim, não permitia que ele se posicionasse à sua frente, ainda que a intenção seguinte fosse fazer uma conversão á direita: que esperasse, ora bolas. Por vaidade ou por serem tão idiotas quanto ele estava sendo, fato é que, os que não conseguiam ultrapassá-lo e os que não queriam fazer conversão alguma, também não aceitavam ficar atrás dele, e continuavam na pista de alta velocidade, na retaguarda das companheiras lesmas. Fez isso durante quatro ou cinco tentativas dos falsos apressadinhos. Claro que foi destratado, excomungado, praguejado; mereceu, mas se divertiu. Ora, ao optaram por se manterem, da origem ao destino ou final de seu percurso, na pista de alta velocidade, a da esquerda, depreendia-se que a primeira conversão seria, claro, à esquerda. Se não, por que não se posicionaram na via que permitia a ultrapassagem correta e legal, que é pelo lado esquerdo? Se eles se julgavam donos da rua, ele também o era; portanto, como entendia estar com a razão, ceder-lhes espaço era uma opção sua, não deles.
     Encerrou a brincadeira deixando que cada um agisse como quisesse; entretanto, até onde pôde ver, raros foram os veículos que, desembocando na Dom Severino, vindos de qualquer lado, ocuparam, ainda que temporariamente, a pista central ou a da direita; quase todos preferiam a da esquerda, mesmo que para transitarem em baixíssima velocidade.
     Por ser verdade, deveria informar que, não durante aqueles minutos de “molecagem”, quando ela estava praticamente desocupada, mas, no geral, trafegar ou se manter na pista direita da maioria das avenidas e artérias de alto fluxo da cidade, invariavelmente, ocupadas por veículos, irresponsavelmente, estacionados, é um exercício estressante.
     Não à toa acidentes de trânsito acontecem com tanta frequência, por excesso de velocidade, impaciência e outras imprudências; algumas, sem dúvida, provocadas pela falta de educação dos que pensam que as vias públicas, na verdade, são propriedades exclusivas suas.
     E se as autoridades municipais de trânsito começassem a valer-se do Código de Trânsito Brasileiro para penalizar, de fato, condutores que transitam equivocadamente em nossas vias públicas ou estacionam em local inadequado, e não apenas aqueles apanhados em áreas que, ocasionalmente, elas resolvem fiscalizar? Será que, com um punhado de multas no prontuário, decorrentes do cometimento de tantas infrações, não aprenderiam a trafegar corretamente? 
                                        Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal ([email protected])