Afinal, somos ou não uma nação laica? Parte da mídia, certamente, não: a que costuma divulgar, à exaustão, atos ou opiniões da igreja católica e somente dela – mesmo sabendo que diversas outras religiões possuem número de praticantes que já influenciam qualquer estatística –, por mais retrógrados ou conservadores que pareçam.  
Um país que não adota uma religião como oficial, que imuniza de tributos igrejas e templos que nele se instalam, precisa exigir e zelar pela boa convivência entre todas elas. O povo, que é soberano e livre, e só dele, pode-se aceitar que estabeleça diferenciação ou priorização de uma em detrimento de outra.
                                A propósito, qual o alcance legal e burocrático de uma excomunhão católica? Ela autoriza patrões a demitirem do emprego funcionários excomungados? Determina ao estado cancelar o CPF, registro geral, título eleitoral, habilitação profissional, conta-corrente bancária dos amaldiçoados? Ou apenas manieta o católico a ponto de tentar induzi-lo a admitir que a ciência é um castigo, não uma dádiva divina?
                                Quem nos garante que excomungados por autoridades tão frágeis e falíveis quanto todos nós, também o sejam pelo Criador? Será que quem executa a excomunhão obtém a benevolência e o perdão divinos?
                                A não ser respondendo a perguntas, geralmente formuladas em círculos ou eventos sociais informais, quem recorda quando teve que informar, publicamente, qual religião professava? E se isso aconteceu, lembra se o fato foi devidamente anotado em algum prontuário formal ou documento? Na igreja de sua paróquia já lhe pediram, ao entrar, crachá referente à sua identificação católica? O vigário de sua igreja, que não seja seu amigo particular ou parente, costuma passar em sua casa para desejar-lhe um ótimo dia, um feliz aniversário, sorte no novo emprego, ver seu filho que nasceu ou rezar um terço em família? E quanto ao dízimo, ele manda com frequência seus emissários cobrá-lo?
                                Alguém que lhe dá muito pouco ou nada oferece em contrapartida, não pode exigir que você vá de encontro, negue ou subverta valores que atribui a fatos, culturas, ensinamentos, convenções, tão importantes, essenciais ou necessários quanto aqueles que sua religião quer que assimile.
                                Quem não se sente feliz nem satisfeito com a religião que professa apenas por conservadorismo ou comodidade, deve procurar outra, pois todas as que se consideram, verdadeiramente, sérias e honestas buscam o mesmo objetivo: levar a seus seguidores alívio, conforto, paz de espírito, tranquilidade, força para seguir adiante, seja qual for o ser superior que esteja no mais alto de seus altares ou habitando seus céus.
                                Se julgar conveniente, não aceite que questionem sua religiosidade, até porque ela não está, necessariamente, vinculada à uma religião formal, ainda que seja a sua, mas àquilo em que você, de fato, crê, acredita ou defende.
A religiosidade é indispensável na vida de cada um. Desconfie, pois, daqueles que dizem não acreditar em nenhum mistério, em algo que não consigam explicar; tampouco nos que creem que não exista um ente, uma força, uma energia mais forte do que eles. Essa turma, além de má companhia, não é boa conselheira. Se der, evite-a.
                                Por fim, como católico e, mesmo arriscando sermos excomungado, reservamo-nos o direito de discordar do religioso ou do laico que, teimosamente, se mantém à margem da estrada por onde corre o tempo, não admitindo que o mais lógico seria, sem negar a sabedoria religiosa, seguir a correnteza das inovações científicas e do conhecimento que o Criador nos possibilita obtermos.
                                                                          Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal
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