[Maria do Rosário Pedreira]

No dia 29 de Março, realizou-se o funeral do escritor mais português de todos os italianos: Antonio Tabucchi, o autor de livros de ficção como A Mulher de Porto Pim, Nocturno Indiano, O Fio do Horizonte ou Afirma Pereira, mas também um grande estudioso e apaixonado de Pessoa, com ensaios publicados sobre a matéria. Não concordo com a hipocrisia dos que, só porque uma pessoa morre, lhe tecem elogios rasgados que nunca lhe expressaram em vida. Mas não posso deixar de confessar que foi com alguma estranheza que li os comentários de Zita Seabra (que trabalhou na Quetzal quando Maria da Piedade Ferreira publicava as obras do romancista nessa chancela) no dia seguinte à morte de Tabucchi. Pois dizia coisas como «era o autor que nenhum de nós gostaria de ter» ou «quando chegava a Lisboa e não funcionava o aspirador... era insuportável de feitio». Acredito que Tabucchi não fosse um santo (já não há disso, e muito menos entre escritores), mas no dia da morte de um senhor autor em qualquer parte do mundo brindar a família, os amigos e os admiradores que lêem jornais com afirmações como estas parece-me simplesmente excessivo. Claro que há gente de quem não podemos esperar nada de sensato. Mas mesmo assim...