Estória de Dona Helena: Papai era um show
Por Flávio Bittencourt Em: 27/12/2010, às 16H19
[Flávio Bittencourt]
Estória de Dona Helena: Papai era um show
Ele usava as roupas que minha tia rica nos mandava como figurinos dos personagens cômicos que criava.
A SEGUIR, Popó, por CÁRCAMO; Salomé, por CÁRCAMO; Jovem, por BAPTISTÃO;
Painho, por GILMAR FRAGA; e Silva, por BRITO:
(http://entretenimento.uol.com.br/ultnot/2007/07/11/ult4326u280.jhtm)
Alex Foto: Alex Carvalho/Globo
EX-PRIMEIRA-DAMA BRASILEIRA Dª. DULCE FIGUEIREDO,
EX-PRESIDENTE JOÃO FIGUEIREDO E
CHICO ANYSIO, INTERPRETANDO PERSONAGEM DE
SENHORA GAÚCHA QUE COM O ENTÃO PRESIDENTE
SEMPRE CONVERSAVA (ficcionalmente) PELO TELEFONE
(http://planetajc.blog.terra.com.br/tag/politica/)
JÔ SOARES E O EX-MINISTRO DELFIM NETTO
Alex
SALOMÉ DE PASSO FUNDO:
A VELHA GAÚCHA QUE "FALAVA COM
FIGUEIREDO" AO TELEFONE
Foto: Alex Carvalho/Globo
PROFESSOR CHICO ANYSIO, ESSA MATÉRIA É PARA O SR.! -
e para os grandes artistas brasileiros
JÔ SOARES,
CÁRCAMO,
BAPTISTÃO,
GILMAR FRAGA e
BRITO, tendo o primeiro, estrela de primeira grandeza da TV e do palco do Brasil,
contracenado regularmente com o grande Chico Anysio
no quadro dos CORONÉIS-COMPADRES-ADVERSÁRIOS
e os quatro últimos sendo seres especiais que souberam
homenagear CHICO ANYSIO
à altura do talento desse GÊNIO UNIVERSAL DO SÉCULO XX,
eternizando-o em seus traços generosos e magistrais:
GLÓRIA E MUITA SAÚDE A CHICO ANYSIO,
patrono desta "Recontando"!
27.12.2010 - Antes do genial Chico Anysio fazer isso na televisão e no teatro, o genitor de Dona Helena, a contadora de causos verídicos, já interpretava vários personagens, para alegria da criançada da casa e seus amiguinhos da vizinhança - As true short stories de Dona Helena são extraordinariamente curiosas e divertidas. F. A. L. Bittencourt ([email protected])
PAPAI ERA UM SHOW
Dona Helena
"Dezembro é um mês em que há muitos aniversários na família [DA NARRADORA, DONA HELENA] e papai aniversariava dia 18. Por isso, eu evoquei, neste final de ano [dezembro de 2010], muitas lembranças referentes a ele. Uma delas é a que eu vou contar.
Aproximadamente em 1951, quando eu tinha mais ou menos 7 anos, acontecia de minha tia, que morava no Rio [MORÁVAMOS EM BARRA MANSA-RJ] - e tinha uma situação [FINANCEIRA] muito boa -, mandar um certo volume de roupas, descartadas ainda em excelente estado, para mamãe reformar para nós [SEUS FILHOS] ou ela mesma usar etc.
Mas minha tia era enorme: um mulherão. Nem sempre mamãe transformava de imediato - ou, às vezes, nem transformava. Com isso, dava uma grande chance ao papai, que, talvez, penalizado conosco [AS CRIANÇAS DA FAMÍLIA], porque minha mãe era demasiado rigorosa, fazia o inverso dela, quando baixava nele um espírito de artista. Ele usava as duas horas que ela saía - para fazer compras - para promover brincadeiras que ela não autorizaria, tais como JOGAR FUTEBOL NA SALA, COM BOLA DE MEIA e FAZER SHOWS IMPROVISADOS. Aí, as roupas entravam em cena, porque ele as resgatava e, conforme o que as roupas sugerissem, ele se transformava em personagem, ora se vestindo como velhinha, ora como vedete ou mulher esplendorosa. Criava muitos personagens. Com isso, a essa altura, a sala já se tinha convertido em palco, com as cadeiras enfileiradas. Os meninos do pedaço eram requisitados, em cima da hora, para assistir ao show improvisado.
E a gente nunca sabia o que iria sair daquele quarto/"camarim", que ficava ao lado da sala.
Quando aparecia, era um delírio. Ele aparecia com o cabelo escovado para cima. Botava brinco, batom e calçava sapato alto, ficando com metade do pé para fora, para não estragar o sapato de mamãe.
Era impactante, porque meu pai era uma figura séria. Vestia-se como homem, formalmente, de terno ou roupa sóbria, e, de repente, ele se transformava num palhaço: tinha uma veia artística, cômica.
Isso era uma grande surpresa para os filhos e para a criançada que ia assistir, porque não se tinha notícia por ali que os outros pais fizessem a mesma coisa.
Então, o show podia durar no máximo uma hora e meia, fosse lá o que fosse, porque tinha que sobrar um tempo para reordenar a casa, como se fosse um verdadeiro mutirão para tudo ficar na Santa Paz do Senhor, para a mamãe não desconfiar.
Ela nunca soube de nada, até que, num jogo de futebol com bolas de pano (as bolas eram de meia), ele deu um chute mais forte e lá se foi a louça toda que estava na cristaleira.
Aí, minha mãe virou uma fúria e exigiu a louça toda igual ou melhor. Ele foi punido por aquela ousadia.
Depois, ele "maneirou". As brincadeiras continuaram, mas desde que não houvesse risco.
Mas nem sempre era assim. Sabe o que acontecia? Às vezes, quando ele estava a fim era de dormir, comprava uma cerveja para ele e outra para nós, enchia quatro copos e nos fazia tomar "de virada", na esperança que nós ficássemos com tanto sono quanto ele.
Ele caía na cama e nos obrigava a deitar ao lado dele. Pegava no sono e nós também, só que por poucos minutos. Então, a gente ia saindo "de fino" e caía na folia, nas brincadeiras da rua. Papai era um show".
(DONA HELENA, que tem 66 anos, em dezembro de 2010)