Estilo e caráter

Todos os indivíduos possuem, pelo menos, dois sinais personalíssimos: um, indelével, que representa o caráter e outro, o estilo. Eles caminham juntos com o homem, ajudando-o e o influenciando em seu desenvolvimento.  Por ser mais forte, o caráter demarca o estilo; ou seja, muitas vezes é possível mudar de estilo, ainda que não o seja mudar de caráter.


 O caráter não é hereditário, porém, genético e dele somos conseqüências. É-nos inato, mas se vai formando à medida que se vão formatando todos os nossos órgãos físicos e estruturais, inclusive, o cérebro. Não tenho dúvida de que sua influência é tão determinante na vida de todos nós, a ponto de o próprio cérebro, o centro de nosso discernimento e arquivo vivo de nossa inteligência, ser incapaz de contrariá-lo. O caráter não transforma a pessoa em mais ou menos inteligente, apenas a faz mais ou menos suscetível ou interessada em absorver conhecimentos e informações. A falha de caráter, porque não existe um ser sem ele, embota a inteligência.


 As mentes doentias, malévolas, são resultantes de uma falha de caráter. Discordo daqueles que dizem que os portadores de caráter pervertido ou defeituoso possam ser responsáveis por atos de extremada inteligência. Todo e qualquer ato humano que não vise nem sirva a interesses comunitários não é produto de inteligência. Somos animais sociais e só por isso conseguimos chegar ao atual estágio de desenvolvimento existencial.


 Reafirmo que o estilo é uma marca do caráter. Dificilmente, um estilo sóbrio, humilde ainda que refinado, despojado sem ser hipócrita; firme, mas não arrogante, não pertence a uma pessoa de bom caráter. Digo dificilmente porque acredito que alguns portadores de mau caráter podem, às vezes, em certas ocasiões, escamotear ou fingir terem um estilo diferente, semelhante ao atribuível aos bons caracteres; invariavelmente, fazem isso para tirarem vantagem, ludibriar, enganar.


 Quem vê ou percebe no estilo de ser de determinado indivíduo alguém que jamais parece ser o que não é, que não dá margem para que se fique a deambular ou divagar a respeito de sua personalidade, não pode ter dúvida quanto a um fato, pois que este salta aos olhos: está diante de uma criatura que conseguiu um casamento mais que perfeito entre estilo e caráter. 
 

Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal e escritor piauiense
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