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 - E onde estão o grupo de Apolo e as duas grandes liras? Onde as puseram? – quis saber Scholz.
 - No lixo! – respondeu Lima Silva.
 O milionário abriu bem os olhos e olhou para o amigo.
 - No lixo? – perguntou.
 - Sim. Estão abandonadas, há vários anos, no pátio da Usina de Bondes da Cachoeirinha... Nem sei se ainda lá existem. 
 - Por que abandonadas?
- Amigo, veja: Apolo se tornou deus da música porque venceu Pan em torneio. A partir daí o deus vivia cercado das nove musas. Tocava lira. Aquela estátua foi causa de muita polêmica, desde que desembarcou em Manaus...
- Por quê?
- Primeiro, porque o deus está nu. Ou semi-nu, o que ofende à moral da terra. Acharam que não ficaria bem colocar um homem nu no alto do arco, como símbolo não sabem de quê.
Riram-se.
- Depois, prosseguiu Lima Silva, há um fato mais sutil, delicado.
- Qual?
- A sociedade brasileira é extremamente machista. Se ali estivesse uma deusa nua, tudo bem. Mas em Manaus isto se agrava. 
- Compreendo. Na Alemanha também é assim, disse o alemão.
- Além disso, Eduardo Ribeiro é solteiro e há boatos ferinos acerca de sua masculinidade... Nunca se soube que ele tivesse mulher. Fala-se de um filho, mas nunca ninguém viu esse filho até hoje. Ninguém questiona a masculinidade dele na sua frente, porque o baixinho é agressivo, mal humorado e truculento. Se aquela estátua estivesse no cimo do teatro logo alimentaria ilações caluniosas e ironias a respeito de Eduardo Ribeiro... 
Riram-se.
- Mas há um fato mais grave. 
- Ainda? - perguntou Scholz, interessado. 
- Amigo, aquela estátua, aquele Apolo é muito feminino.
 
(R. SAMUEL: TEATRO AMAZONAS)