Dirce Carneiro
Dirce Carneiro

[Dirce Carneiro]

 A Arte é necessária

porque a vida não basta

[Ferreira Gullar]                     

 

No início um mal misterioso, nenhum recurso existente e conhecido faz qualquer efeito.

Parecia história de ficção, inventada por escritor, cineasta, dramaturgo sensacionalista. Mas não. A realidade supera a ficção.

A corrida científica começa. O “desprazer em conhecê-lo” é desafio e glória dos pesquisadores que se debruçam noite e dia para decodificarem a personalidade do tão terrível visitante, que não pede licença para entrar em corpos. Usar máscaras, não usar. Usar, diz a Ciência.  Isolamento. Ninguém sai de casa, de um lado. Que nada, é apenas uma gripezinha, diz outro lado, parte do povo imitando o governante, que imita seu ídolo, o governante da potência do norte da América, que o vírus ajuda a derrubar do poder.  Pandemia politizada, respiradores sequestrados, operações de compra de aparelhos sabotadas. Quem dá mais? A diplomacia em xeque. A civilização sendo testada.

O ar, dádiva da natureza, sendo vendido com ágio.

A realidade passa para a virtualidade. A internet, antes entretenimento para muitos, assume importância vital para a sobrevivência, indispensável ao trabalho em home office. Aulas remotas.  Alunos sem acesso a computadores, celulares ou internet, sentem-se em desigualdade na nova “sala de aula”. Professores se reinventam, de novo e de novo.

Artistas, após o susto do primeiro momento, sem palcos e plateias, “viram-se nas lives”, apresentam-se no quintal de suas casas, naquele cantinho preferido com bom visual nas telas de celulares e Tvs. Visibilidade máxima para aquele que se apresenta em cima do telhado. Uma veste um caro pijama rosa de bolinhas brancas, metáfora de se estar em casa, do jeito que a maioria das pessoas fica na intimidade do lar, roupa de dormir ou bem vestidas da cintura para cima para aparecerem nas lives.

Aos poucos, surge o ócio criativo.

Poemas são projetados nos prédios do outro lado da rua; aniversários são comemorados em reuniões virtuais; artistas se apresentam nas suas varandas: sons de violino, vozes de tenores, teatro, comédias, o homem do trompete, o palhaço fazendo rir para não chorar...

É preciso enganar a tristeza, a incerteza, a desesperança, as dores de tantas perdas, o medo do perigo que pode estar num abraço, num aperto de mão, no cumprimento, no sorriso do próximo.

É preciso calar a dor e a saudade do ente amado que se foi, sem a possibilidade da despedida.

Enfim a vacina...caso à parte é o capítulo sobre as vacinas. Vacina ganha grife. Conforme a preferência política. O poder da desinformação, da manipulação das mentes.  Nunca antes se viu escolher-se um “remédio” de acordo com a ideologia.

Vida não tem partido. Vida não tem cor, vida não tem religião, vida é dom gratuito, é dádiva.

E vem a segunda cepa. Novo alarme. E a terceira cepa pega mesmo quem já se vacinou.

É preciso se cuidar, palavra de ordem.

O normal ainda não chegou, não se sabe quando virá.

Talvez nunca mais tenhamos o normal de antes, idealiza-se o novo normal sendo construído com novos modos de pensar, com mentes reformatadas, espera-se um salto de evolução...apesar do fosso, do abismo, do patético, do paradoxo entre o civilizado e a barbárie, esta, sendo orgulho de muitos empoderados no retrocesso vindo à superfície.

A outra palavra de ordem é resistir. Não se entregar. Enxergar o arco-íris, mesmo sob nuvens. Acreditar que a luz se fará.  Que o bem triunfará. Por que se não, como viver, sem a esperança a descortinar horizontes...

Somos fênix. Somos águias, condores. Há voos rasantes, só para buscar o peixe e os que necessitam de um fio a lhes dar o primeiro impulso para o alto, mas o infinito é o limite...

Nossos escritos ganham sentido da resistência da Poesia, da magia, do poder da palavra em prosa ou verso, a ressignificar agoras, trazer sol aos dias, luas às noites, nuvens em pareidolias, adivinhações da imaginação, carneirinhos nas insônias, canções da chuva, raios e trovões -  poderes a serem potencializados dentro de cada um. E seremos melhores...quiçá...que o susto nos catapulte ao salto de qualidade, depois da surpresa do século XXI, possamos construir o lugar sonhado, herança para as gerações vindouras, filhos, filhos dos nossos filhos e filhos dos nossos netos...a todos no devir.

Que nossos melhores sonhos se transformem em realidade, para chegarem como legado, anos e séculos depois, como presentes enviados numa viagem na cápsula do tempo.

Vibrações positivas a todos, muita força a quem perdeu ente querido.

Poesia, Arte – está provado: são essenciais à vida! Selemos nossas palavras com poesia!

            

Dirce Carneiro é nascida em Minas Gerais e reside em São Paulo. Graduada e Licenciada em Letras pela USP. Atuou no Magistério de segundo grau paulista e também na área acadêmico-administrativa da Universidade de São Paulo, por onde se aposentou. Escreve prosa, poesia, literatura infantil/juvenil. Participa de  coletâneas, antologias, redes sociais, grupos literários, site Recanto das Letras. Participa do coletivo Mulherio das Letras no Brasil e exterior. Tem livros publicados: Retrato em Verso e Vista, Mistérios da Quarentena (este infantil/juvenil) e Ressignificâncias - de gavetas e janelas abertas, em fase final de edição. Integra Academias como Academial Virtual de Arte Literária, FEBACLA, ACILBRAS, e Academia Internacional Poetrix.