Me  arrependo de não ter  trazido comigo de Teresina, em  1964,    mais  livros de meu pai, visto  que,  se assim o tivesse feito,  alguns bons  dicionários e outros volumes  estariam ainda  comigo.Que lástima! Estariam cuidadosamente guardados no meu acervo  particular  e  ter-me-iam  sido  muito úteis em minha atividade  não profissional  de tradutor    de poesia.

     Retomando o  assunto das obras organizadas  em tempos de pandemia,  me vejo, agora,  regozijado com o   que  reuni recolhendo  textos meus  publicados,  ou  não, em  forma de "apostila".  Grande parte dos textos  estava em  forma  digitada.   Tirei   cópias do meu  Blog, As ideias no  tempo, bem como    do site Entretexto, no qual assino a minha coluna Letra viva desde 2009.

       Na  organização dos livros de meu pai,   me vali do meu acervo  conservado por mim  faz  muitos anos com os artigos em recortes de jornais  de  Teresina  dos anos  1960  até os anos 1990. Decerto, alguns  artigos  perdi-os  em tantas mudanças de residência aqui no Rio de Janeiro. Tanto  artigos meus quanto de meu pai.  Que  tristeza!  Terei  que ir aos arquivos de Teresina a fim de tirar cópias  de velhos  e juvenis artigos   meus  e de meu pai. Quem sabe, em Parnaíba, possa localizar,  nos  arquivos públicos de lá,   velhuscos    textos de meu  pai  publicados  no Almanaque de Parnaíba,  quem sabe também  em Floriano,  que já  teve um jornal  chamado O Floriano, para o qual     meu pai  enviava  os seus primeiros artigos.   

       Quanto à correspondência ativa e passiva  que está  já reunida em dois grossos  volumes,  no mesmo formato de “apostila,” só lamento   dizer que as minhas cartas a meu pai  trocadas  durante mais de 20 anos,  não foram  guardadas.   Sumiram   como folhas ao vento.   Só tenho  as dele,  segundo já afirmei  neste texto.

      Elas significariam  muito para mim,  porquanto   nelas  amiúde comentava-lhe  os artigos e trabalhos  de outra natureza. Além do mais, essa parte ativa da minha correspondência com meu pai   muito  me ajudou  na prática de analisar  textos jornalísticos e literários, no calor  da impressão da primeira leitura de cada  artigo remetido de Teresina, circunstância esta sem dúvida epistemologicamente conexionada  ao processo  de criação  e produção literária   de cunho crítico  e ensaístico  que,  seguramente,  colaborou para a práxis   da minha atividade   ensaística  nos meus   posteriores  estudos  de  Letras tanto ao nível de   graduação quanto  ao nível  de pós-graduação stricto sensu.

    Há poucos meses,  revendo as “apostilas” referentes à minha correspondência, nos dois grossos volumes já mencionados,  me deparei com um  carta de um  amigo  que tive um grande prazer  de conhecer durante  o tempo em que lecionava    língua inglesa, língua portuguesa  e  literatura brasileira no Instituto  de Educação "Governador  Roberto Silveira,”   em Duque de Caxias,    município do Rio de Janeiro. Esse amigo  era professor  de língua inglesa e se chamava Vilmar.

      Com ele  e a pedido dele,   também   fui lecionar    língua portuguesa e literatura brasileira  numa  escola  particular  de classe média, também em Duque de Caxias. Era ele  o coordenador  geral. Com ele mantive  uma amizade  de respeito e admiração   recíprocos, e a amizade  só   não durou muito,  porque    falecera  ainda moço.

     O meu contato   primeiro  se deu   em razão   de ele ser, no  Instituto  Governador  Roberto Silveira,  o coordenador  de língua inglesa. Foi um   contato inicial  amável da parte dele e da minha.  Logo nos sentimos  bons amigos. Eu viera transferido de uma escola  muito  distante, no interior de Duque de Caxias,   num bairro chamado Xerém. Era nos meados dos anos de 1970.

     O Instituto  Roberto Silveira era, então,   um educandário  público com  um  excelente   curso de formação de professores,  no qual   pude  conhecer admiráveis  professores  em todas as disciplinas.  O  meu   período  de atividade nessa  instituição  me foi muito útil,    muito  proveitoso. Só saí de lá porque  fui  fazer o mestrado  na UFRJ., pois minha intençã era largar o ensino médio, o que aconteceu  só parcialmente,   visto que  fiz concurso  de provas e títulos  para   professor   de  língua  inglesa do conceituado  Colégio Militar do Rio deJanero (CMRJ)  e,  paralelamente, fui  convidado a lecionar  literatura brasileria e língua  inglesa  na Universidade Castelo Branco (UCB, Rio deJaneiro). 

       Deixei  pois,  grandes amizades no Insttiuto de Educação "Governador Roberto Silveira,"    entre as quais   as dos professores  Vilmar,   Tytiro Telles  (de matemática), Nélio ( de matemática), Cícero ( de língua portuguesa e literatura  brasileira),    Sebastião (de inglês), Assis (de filosofia), Stélio ( de história) assim como de muitas  distintas   professoras  de várias disciplinas   da grade  curricular,    como didática, psicologia educacional,   filosofia da educação etc.

     Dos mais íntimos, citaria  o Tytiro, o Nélio,  o Cícero. Entretanto,    quero deixar registrado   nestas relembranças  docentes, por ora,  três   professores: o Vilmar, o Tytiro e o Sebastão, já  que els  estão   incluídos    na  minha  correspondência   organizada.

      Falemos do Vilmar e  da amizade   que nos uniu no campo  docente, amizade que nasceu  e se fortaleceu sobretudo   por  duas  circunstâncias.  A primeira   foi  já exposta  anteriormenete neste texto: a da admiração    gratuita e desinteressada,  amizade  principalmente  encetada  pelas  afinidades  intelectuais, de simpatia mútua;    A segunda   circunstância  prende-se  a um  fato que ocorreu  para o meu deleite  docente.       

      Encontrava-me    dando aula de literatura brasilera num dado dia, à tarde,      precisamente   comentando  o  papel  de alta relevância  da obra de Cruz e Sousa (1861-1898), poeta pelo qual  sempre  tive especial   admiração, tanto quanto pelo   estilo  de época. o  Simbolismo.  Estava      falando do Simbolismo  brasileiro,  do qual  o  “Cisne Negro”  é figura de proa  no quadro   desse estilo  de época  da nossa  literatura . Era  um aula  em que  estava muito empolgado,  dado que.  desde adolescente,   fiquei   cativo da poesia  cruzesouziana . Um fato circinsstancial  leva a outro,  à semelhnaça da palavara-puxa-palava no caso de de Cruz e Sousa e retornando   no tempo,  me vem à  tona a escrita  daquele artigo  juvenil de 1963, sobre o Simbolismo,   de título, "O Simbolismo Brasileiro" publicado em duas partes, em jornal  de Teresina, das quais só  guardei a segunda  partae. Muitos  anos depois,  por sinal,   no meu doutorado, empreendi  uma boa pesquisa  sobre  u mtexto em prisa de Cru e Sousa, que resultou  na monografia,   orientada  pelo   professor de literatura brasileria  da  Faculdade de Letras da UFRJ,  o  romancista e ensaísta    Godofredo  de Oliveira Neto, autor  dentre    outros,  do romance  Pedaço de santo (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997,  222 p. ).   A monografia  tem o título de  "Cruz e Souza: os limites do emparedado" (1997)          

   Ocorre que,  no dia  dessa aula,  sem que   o soubese,   o professor Vilmar   estava  passando  vagarosamente  por um dos corredores,   no qual   ficava  a sala em  que   estava   dando a minha aula.  Ele,  conforme depois me contara,   parou   diante da porta  entreaberta  da minha sala  e permaneceu ali  até ao término da aula,   ouvindo a minha  exposição. Quando saí da sala,  ele   se dirigiu a mim com  um largo sorriso  e me parabenizou  pela aula  que acabara   de  dar.  (Continua)