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[Bráulio Tavares]

Frederik Pohl, falecido no início deste mês, foi um dos mais ativos autores da FC norte-americana: escreveu dezenas de livros, editou algumas das mais importantes revistas do gênero (como a Galaxy, entre 1961 e 1969), foi agente literário para inúmeros amigos. Trabalhou incansavelmente até sua morte aos 94 anos. Seu conto “The Tunnel under the world” (1955) é uma das primeiras especulações sérias da FC sobre o tema do “mundo artificial” cujos habitantes, que são meras simulações eletrônicas, como personagens de videogame, imaginam que são pessoas de verdade. A primeira versão da Matrix.

Em seu livro de memórias, The Way the Future Was, Pohl reflete sobre a profissão do escritor. “Há momentos,” diz ele, “em que você está enchendo de palavras aquelas folhas de papel branco, e alegremente pagaria qualquer preço só para que um profissional competente lhe dissesse se aquilo presta ou não presta”. Pohl observa que cada escritor tem seus próprios hábitos. Hospedado na casa de Fletcher Pratt, ele comenta: “Fletcher costumava instalar a máquina da escrever na sala de bilhar. Escrevia algumas linhas, fazia uma pausa para conversar, tomava um drinque, alimentava os bichos, depois voltava e escrevia mais um pouco. Nunca entendi como alguém, escrevendo naquelas condições, era capaz de enfileirar frases que fizessem sentido, mas o seu exemplo nos encorajava”.

Pohl tem uma lição sobre a profissão da escrita. Lição que, é claro, não serve para todo mundo, mas para alguns há de servir. Diz ele: “O que eu fiz foi estabelecer para mim uma cota diária de quatro páginas. Nem mais, nem menos. E escrevo essas páginas todo dia, não importa onde eu esteja, nem quanto tempo leve, nem que eu morra tentando. Às vezes elas me exigem 45 minutos, às vezes dezoito horas.” E numa nota de pé de página explica: “Estas páginas aqui, por exemplo, foram escritas numa manhã de sábado num hotel em Cleveland, quando todos os meus amigos estavam a poucas portas de distância, preparando-se para um belo café da manhã, rindo, conversando, divertindo-se a valer, enquanto eu batucava na minha máquina portátil francesa. Mas eu me mantive firme, e evitei desmoronar.”

Pohl afirma: “Faço isso todo dia, porque se falhar um dia apenas o ritmo será quebrado e o edifício inteiro desabará em minha cabeça. Escrever todo dia significa escrever no sábado, no domingo, no dia de Natal, no meu aniversário, no dia em que faço tratamento de canal, no dia em que voo para Londres. Cumpro minha cota em aeroportos, em balcões, em trens. Escrever todo dia significa escrever todo dia mesmo, sem exceção, e esta é, para mim, a regra número 1 de um escritor profissional”