Escola para vestibular?
Em: 09/11/2007, às 11H00
João Baptista Herkenhoff
O projeto de escolas destinadas a formar jovens para exames vestibulares tem coerência com o projeto de sociedade da qual se extirpou uma visão universal da vida.
As escolas para vestibular são apenas sintoma de uma organização social que perdeu os referenciais justificadores de nossa passagem por este mundo.
Aboliu-se a educação humanística, que era a inspiração dos antigos ginásios. A formação escolar não é mais lastreada pelo objetivo de abrir horizontes, desenvolver o espírito crítico, favorecer a criatividade, apostar na dúvida, pois que a dúvida é o grande caminho do pensamento.
Não se lêem mais, com o devido realce e interesse, as grandes obras da Literatura Brasileira e Universal, mas resumos dessas obras, porque em exames vestibulares o que conta é saber marcar “x” na opção apontada como correta. Os resumos dão conta desse recado. É possível o candidato alcançar nota máxima numa prova de Literatura, sem jamais ter lido uma obra literária integralmente.
Não se formam mais jovens que encontrem seu papel no mundo, independente de eventual aprovação em exames vestibulares.
Mesmo quando se estuda Filosofia, em tais escolas, não se pretende com esse ensino preparar a mente do jovem para o questionamento porque o questionamento não cabe em exames vestibulares. O ensino da Filosofia é dirigido para o enquadramento.
Jamais saberão pensar com independência, grandeza e senso ético jovens egressos de escolas para vestibular, a menos que esses jovens encontrem em outros espaços sociais a oportunidade que tais escolas lhes negaram.
A fixação em exames vestibulares é tão grande que escolas circunscritas a esse papel chegam a disputar a concorrência com suas congêneres apresentando cifras de aprovação. Quando conquistam para suas clientelas colocações em “primeiro lugar” nas provas, toda uma massa publicitária exalta o feito.
Jovens aprovados em primeiro lugar serão, necessariamente, os melhores profissionais no futuro?
Ou ampliando a indagação: jovens campeões serão os mais felizes, os mais integrados, ou se despedaçarão em conflitos e frustrações porque aprenderam a supor que nossa existência é uma corrida de Fórmula Um?
Não se trata apenas de questionar as “escolas para vestibular”. Atrás dessa questão visível há um debate muito mais importante e profundo.
A que se destina a educação? Quais são as finalidades de uma escola? Que diretrizes deveremos propor aos jovens para que lhes sirvam como itinerário da existência? O grande valor que deve alimentar nossas vidas particulares e a vida das sociedades é a competição ou a cooperação?
Trata-se de matéria para longas discussões. Este artigo apenas propõe quesitos elementares que suponho sejam úteis à reflexão.
João Baptista Herkenhoff é livre-docente da Universidade Federal do Espírito Santo – professor do Mestrado em Direito e escritor. E-mail: [email protected]
O projeto de escolas destinadas a formar jovens para exames vestibulares tem coerência com o projeto de sociedade da qual se extirpou uma visão universal da vida.
As escolas para vestibular são apenas sintoma de uma organização social que perdeu os referenciais justificadores de nossa passagem por este mundo.
Aboliu-se a educação humanística, que era a inspiração dos antigos ginásios. A formação escolar não é mais lastreada pelo objetivo de abrir horizontes, desenvolver o espírito crítico, favorecer a criatividade, apostar na dúvida, pois que a dúvida é o grande caminho do pensamento.
Não se lêem mais, com o devido realce e interesse, as grandes obras da Literatura Brasileira e Universal, mas resumos dessas obras, porque em exames vestibulares o que conta é saber marcar “x” na opção apontada como correta. Os resumos dão conta desse recado. É possível o candidato alcançar nota máxima numa prova de Literatura, sem jamais ter lido uma obra literária integralmente.
Não se formam mais jovens que encontrem seu papel no mundo, independente de eventual aprovação em exames vestibulares.
Mesmo quando se estuda Filosofia, em tais escolas, não se pretende com esse ensino preparar a mente do jovem para o questionamento porque o questionamento não cabe em exames vestibulares. O ensino da Filosofia é dirigido para o enquadramento.
Jamais saberão pensar com independência, grandeza e senso ético jovens egressos de escolas para vestibular, a menos que esses jovens encontrem em outros espaços sociais a oportunidade que tais escolas lhes negaram.
A fixação em exames vestibulares é tão grande que escolas circunscritas a esse papel chegam a disputar a concorrência com suas congêneres apresentando cifras de aprovação. Quando conquistam para suas clientelas colocações em “primeiro lugar” nas provas, toda uma massa publicitária exalta o feito.
Jovens aprovados em primeiro lugar serão, necessariamente, os melhores profissionais no futuro?
Ou ampliando a indagação: jovens campeões serão os mais felizes, os mais integrados, ou se despedaçarão em conflitos e frustrações porque aprenderam a supor que nossa existência é uma corrida de Fórmula Um?
Não se trata apenas de questionar as “escolas para vestibular”. Atrás dessa questão visível há um debate muito mais importante e profundo.
A que se destina a educação? Quais são as finalidades de uma escola? Que diretrizes deveremos propor aos jovens para que lhes sirvam como itinerário da existência? O grande valor que deve alimentar nossas vidas particulares e a vida das sociedades é a competição ou a cooperação?
Trata-se de matéria para longas discussões. Este artigo apenas propõe quesitos elementares que suponho sejam úteis à reflexão.
João Baptista Herkenhoff é livre-docente da Universidade Federal do Espírito Santo – professor do Mestrado em Direito e escritor. E-mail: [email protected]