ERROS FUTEBOLÍSTICOS OU EM DEFESA DE MIM MESMO (*)
Por Elmar Carvalho Em: 19/07/2013, às 07H57
ELMAR CARVALHO (*)
Vindo passar uns dias de minhas férias em Parnaíba, tomo conhecimento de que eu teria cometido erros graves em meu trabalho Craques do Futebol Parnaibano. Irei aqui fazer um mea culpa, em que tentarei justificar ou mesmo fazer a expiação de meus supostos ou verdadeiros equívocos.
Quando o escrevi, no começo deste século XXI, fiz questão de enfatizar que me fundamentava na memória prodigiosa de meu amigo Genésio da Silva Costa. Fiz uso de recurso da chamada história oral, que é sempre suscetível de falhas, pois como todos sabemos a memória é muitas vezes frágil e enganosa. Evidentemente, lancei mão de eventuais artigos ou registros e anotações a que tive acesso, além de consulta a algumas outras pessoas. Publiquei-o em sites e jornais, com a esperança de que alguém me enviasse eventuais retificações ou mesmo me desse novos subsídios, que pudessem enriquecer o meu modesto ensaio historiográfico. Todavia, não recebi nenhuma carta ou e-mail com reclamações, retificações ou sugestões, de forma que o considerei digno de publicação em livro.
Por conseguinte, o enfeixei no opúsculo O Pé e a Bola (publicado em 2003), que traz excelente prefácio do intelectual e comentarista esportivo Carlos Said, cujo nome dispensa qualificativos, por ser uma legenda da crônica futebolística piauiense. A obra, que tem como subtítulo “Craques do futebol campomaiorense e parnaibano”, é divida nas seguintes seções: a) O Pé e a Bola, que é um ensaio sociológico sobre o futebol, mormente o amador ou dos campinhos de várzea, e as suas sociabilidades; b) Craques do futebol campomaiorense; c) Craques do futebol parnaibano e d) Memória iconográfica.
Nas partes b e c fiz uma síntese histórica do futebol em Campo Maior e em Parnaíba, e relacionei os principais atletas, na avaliação de meus informantes (Genésio da Silva Costa e Zé Duarte, além de outros). Minha intenção primordial ao publicar essa obra foi relembrar o nome de grandes craques, que já se encontravam em quase completo esquecimento. Ressaltei que não tinha a pretensão de esgotar o assunto, e que outros poderiam fazer mais e melhor do que eu. Deixei bem claro que em todas as listas de melhores, sempre alguém poderia apontar alguma inclusão indevida ou alguma indevida exclusão. Mas, como disse, não tinha eu o objetivo de exaurir a matéria.
Quando publiquei o meu livro em 2003, fiz pequenas alterações, de modo que alguns dos erros apontados já foram corrigidos. Por exemplo, na página 29 do meu livreto está dito que um dos introdutores do futebol foi Septimus Clark, de ascendência inglesa (e não James Clark), de modo que o reparo já foi solucionado. No texto anterior eu tinha optado por atualizar a grafia do nome do Parnahyba, mas no livro resolvi manter a grafia original, ou seja, conservei o nome como sendo Parnahyba Sport Club, de sorte que esse outro “erro” também já fora sanado, desde 2003.
Outro senão que me imputaram foi o de não saber o significado da palavra escrete. Na verdade, as palavras têm o sentido denotativo e conotativo. No meu texto, dei a essa palavra a conotação de time, e não de seleção. De qualquer sorte, alguns dicionários registram esse vocábulo como tendo também o significado de time. Por conseguinte, tanto no sentido denotativo como no conotativo, eu não estaria errado. Assim, a censura teria foro de preciosismo linguístico, que não tentei seguir, mesmo porque sei que a semântica está sempre sendo enriquecida, com as palavras adquirindo outras e novas significações, tornando-se, às vezes, plurissignificantes.
Quanto a antigos dirigentes que citei, esclareço que eu não disse terem sido presidentes, mas que teriam exercido cargo na direção, e não exatamente na presidência do time. De qualquer modo, a informação me foi passada oralmente, e é possível que o meu informante possa ter se equivocado. Foi o meu amigo Genésio Costa quem me informou que foram disputados campeonatos em campo de futebol localizado onde hoje se ergue a Praça Santo Antônio, o que não impede que outros torneios possam ter sido praticados em outros locais. Eu não disse, em momento algum, que o Ginásio São Luiz Gonzaga já existisse no tempo em que o empresário Zeca Correia criou o seu campo de futebol; disse apenas que ele foi instalado em local perto de onde (hoje) se ergue esse educandário.
Conheci Mário Carvalho, e lhe tinha respeito, admiração e amizade, principalmente porque ele era colaborador do Jornal Inovação, do qual fiz parte, com muita honra para mim. Não lhe omiti a participação no episódio referido na crítica. Aliás, ele é o primeiro nome relacionado no meu livro O Pé e a Bola, conforme pode ser visto na página 30, quando eu afirmo: “ No início da década de 60, os proprietários quiseram desativar o estádio [do International], dando-lhe outra destinação, o que gerou uma acirrada revolta popular, com vários manifestantes, em cuja linha de frente estavam Mário Carvalho e Mário Pereira (...)”.
Quanto ao nome de Jesum Messias já corrigi o equívoco no original do texto. Realmente Galdino foi ourives, desportista e líder comunitário, mas não foi escritor e nem compositor; quem me deu essa informação deve ter se equivocado, ou então o equívoco foi meu, quando fiz a sua anotação manuscrita. Com relação ao atleta Genésio, escrevi o seguinte: “nossa principal fonte informativa, Genésio da Silva Costa, o Geruca (Guarani e Ferroviário), meia-direita e centroavante, invicto nos campeonatos de 1943 e 1944”. Acredito ter sido fiel ao que ele me disse, e que imediatamente anotei. Contudo, no dia 16/07/2013 o velho atleta desfez seu engano, e me disse que a invencibilidade ocorreu apenas no ano de 1943. Já fiz a devida correção.
Peço ao leitor de meu livro que me perdoe por esses erros (que infelizmente acontecem quando se recorre à história oral), que tentei justificar. Esforcei-me para fazer o melhor que podia. Não tive o desiderato de exaltar ou escamotear de forma injusta o brilho e o mérito de ninguém. Entretanto, acrescento que na época em que o escrevi não existia nenhum livro sobre o futebol parnaibano, ao menos do meu conhecimento, e ao qual pudesse ter acesso. Ressalto que publiquei o meu opúsculo com o objetivo de resgatar a memória dos grandes craques do futebol campomaiorense e parnaibano, que se encontravam imersos em quase absoluto esquecimento, e penso que o atingi. Em resumo: alguns erros apontados já estavam corrigidos, quando publiquei o livro em 2003, e os outros já estão retificados no original.
Encerro esses esclarecimentos, com o seguinte trecho do aludido livreto:
“Sem dúvida, as belas e caprichosas jogadas de grandes craques rapidamente caem no esquecimento. Diria mesmo que essas jogadas de arte, verdadeiros malabarismos, verdadeiras coreografias e balés, têm uma glória magnética e eletrizante, mas tênue, passageira, comparáveis a belas esculturas executadas com neve, tão mais precárias quanto mais delicadas.
Desejo também registrar que a glória dos estádios muitas vezes é fugaz e traiçoeira, pois não raras vezes um craque, após uma jogada de gênio, comete logo a seguir um lance infeliz, como um passe para o adversário, ou mesmo o suicídio melancólico de um gol contra. A torcida, implacável, transforma os aplausos em apupos e vaias, o êxtase em sofrimento, ainda mais quando o atleta atua na posição ingrata de goleiro, em que uma falha é quase sempre fatal.”
(*) Em minha juventude, joguei futebol, tendo atuado preferencialmente na posição de goleiro. Remeto o leitor, caso tenha interesse, para as crônicas "Quem te ensinou a voar?" e "Despedida de Goleiro", ambas publicadas em vários blogs e portais.