[Maria do Rosário Pedreira]

Fui convidada para proferir uma das cem lições nas comemorações do Centenário da Universidade de Lisboa. Disse que sim, mas estou obviamente aterrada. Quem me conhece sabe que não gosto de falar em público e, desta feita, a responsabilidade é muito grande. Na carta-convite, propunham-me (sem me forçarem, bem entendido) que reflectisse sobre a relação que existe entre o que aprendi nos meus tempos na Faculdade de Letras e as funções que agora desempenho; a sugestão fez-me pensar na quantidade de coisas que li durante o curso e no que hoje se lerá. Um professor contou-me uma história a este respeito que achei hilariante. As frequências aproximavam-se e deu-se conta de que um dos seus alunos não sabia patavina; decidiu ir falar com ele e insistiu em que estudasse, mas passaram duas semanas e o rapaz continuava em branco. Voltou a aconselhá-lo, mas bastou meia dúzia de perguntas uma semana mais tarde para chegar à conclusão de que ele não lhe dera ouvidos. Interpelou-o, pois, pela terceira vez – e foi então que o aluno explicou que aquele curso não lhe dizia nada, que até já tinha tomado a decisão de mudar de faculdade, e que só pretendia ir aos exames para conseguir equivalências nesse novo curso. Pediu, como quem não quer a coisa, ao professor que o passasse... Este, porém, não se deixou abater e retorquiu apenas: “Equivalências?! Que equivalências?! Pois se o que tu sabes não equivale a nada!”