Cunha  e Silva Filho
 
 
        A agenda da vida literária e cultural  brasileira não deixa de manter-se fértil,  exuberante,  promissora,  com  datas de homenagens a grandes  escritores,   palestras,  em universidades, textos em sites e blogs, alguns  primorosos,  nacionais e internacionais,  em rede social,  com o conhecido  Facebook que se está transformando  em coluna  de alguns usuários e em  agenda de eventos  de literatura  e outros campos do conhecimento.
     Nunca pensei que ainda alcançaria  assistir a tudo isso  deslumbrado de ver  tanta coisa boa e útil à coletividade. Sabemos, por outro lado,  que  o Face tem lá seu lado  um tanto fútil, mas o seu traço geral  não   o é com certeza. É, antes,  um  instrumento  utilíssimo  para  transmitir conhecimento,  trocas de ideias, de informações, de pontos de vista. Entre o lixo e o luxo cultural  o saldo  positivo fica para a segunda  alternativa.
     Assim é que me movo hoje, ora  exigindo de mim  a participação  produtiva  no terreno  literário,  ora  as exigências de me posicionar  politicamente  num Brasil  encharcado de informações e contra-informações, embaralhando até a cabeça dos mais conscientes  diante dos desatinos  da  administração  federal.
     Há um ponto de intersecção polarizadora, divisora,  numa clivagem  que, por chegar a um  ponto tal de ebulição, atingiu um dos sentimentos  que mais  prezo no relacionamento  entre pessoas: a amizade. Em tempo passado algum  da minha vida,  mesmo  no ápice  dos anos de chumbo, pude constatar  tanto  sentimento  de  aversão  mútua entre   filhos da   mesma  pátria.  
        No meu tempo de estudante de letras e mesmo muito antes, quando me preparava para o vestibular, não em cursinhos, porque me faltava  condição financeira, mas autodidaticamente, tive amigos reconhecidamente  socialistas e comunistas  ativos que, sabendo da minha, teoricamente,  posição apolítica ou absenteísta como querem  outros,   sempre me trataram  com  o devido  carinho e com uma amizade que me  comovia. Nunca  misturaram  os papéis, nunca deixaram de me tratar  como   qualquer brasileiro  cujo  objetivo primacial  era  vencer na grande  cidade do Rio de Janeiro.
       Nas condições odientas de hoje,  a realidade  é bem  outra: há um sentimento  de antagonismo  visceral, uma acrimônia sem limites  de uns contra os outros  jamais  sentidos  por mim  antes.  Imagine-se se vivêssemos numa  guerra civil, que é o último degrau  de uma antiga  convivência  pacífica entre filhos da mesma   pátria.
     Perdemos  um dos mais nobres  sentimentos  tão necessário aos laços entre  brasileiros e,  principalmente, entre supostos amigos, porquanto a amizade é um sentimento  que se preserva a todo custo e por cima das ideologias e visões da vida.
     Eu bem me lembro que,  um historiador  da literatura   brasileira,  por inimizade com  outro  que pesquisa na mesma  área, deixa de citar  o desafeto  intelectual, ou, quando muito,  faz-lhe referências  mínima. Para mim,  isso  podia-se denominar crime  cultural,  falta de dignidade  pessoal e desserviço  à evolução do conhecimento  humano. Subestimar  de propósito  um escritor  por inveja  ou  por razões  políticas é uma desatino  e uma imoralidade  flagrante, desprezível ao olhos da produção verdadeiramente  científica. Obviamente,  me   refiro àquele pesquisador que, sabendo do valor   maior  ou  menos valor de um autor,  passa batido e sonega  informações  que seriam  valiosas  à continuidade  do desenvolvimento  cultural.
   Nos tempos que correm da  produção digital, seja exemplo  o Facebook, já se tornou  um quase lugar-comum a quebra de amizades,  deletação ou apagamento  por motivos  políticos   no confronto  entre situacionistas  e oposicionistas, ou mesmo entre o situacionismo e  posições políticas apartidárias, independentes mas  frontalmente contrárias à conjuntura  política nacional.         
   Ora,  essa realidade nova e nefasta à sociabilidade  é um retrocesso  e um  exemplo de que  o ser individual não se aprimorou  como subjetividade  em relação às alteridades  diversas, pois está   levando a pique  uma das condições mais saudáveis  no relacionamento  interpessoal dos brasileiros.
   Só governos de estofo autoritário levam uma comunidade  a tal  ponto  de  ofuscamento  de uma   realidade que atormenta   há tempos  a vida  brasileira, colocando  o país  em sérias  dificuldades  nos diversos setores  da esfera  pública e privada.
  Quero  saber até aonde vai  a angustiante  vida  de alguns  brasileiros que perderam  emprego aos milhões, que estão sofrendo  com  um altíssimo custo de vida e com uma  violência  que atingiu o seu estado mais   sangrento. Haja vista o agora chamado  “novo cangaço,” com cidades do interior do país sendo invadidas por bandoleiros  - verdadeiros  outlaws dos tempos da conquista do Oeste norte-americano  tão aproveitados  pelos cinemas (e livros), os famosos  westerns, americanos de bangue-bangue – muito  mais armados do que os nossos  policiais, explodindo   bancos e pondo a população  em polvorosa e  em estado de choque. Veja-se como o país está  distante e atrasado  no setor da segurança  pública   se comparado com  outros  países  grandes e melhor  organizados.
    Na criminalidade em geral, na urbe e no interior,  o país está num lamentável e perigoso retrocesso. O que evidencia o quanto  o nosso país  sofre nos últimos  anos e de forma  crescente sem que  o governo federal  tenha tomado  decisões  firmes para conter  esses criminosos e puni-los severamente sem brechas de leis e benefícios  legais que deveriam urgentemente  ser eliminados  da nossa legislação  no âmbito da criminalidade de alto risco,  constituindo  mesmo  em  seguidos   crimes  de segurança nacional, ou seja numa situação  de   defesa dos brasileiros  e do seu  patrimônio material.
    Ora,  tal caos social  instalado  exigiria  o apoio urgentíssimo das forças federais, ou seja, da polícia  federal, da polícia civil e das forças armadas, com a necessária  logística  de estratégias e de armamento  moderno  pesado que possa debelar  os focos  desses “novos  cangaceiros”  movidos a granadas,  explosivos   e armamento  de guerra e atitudes de terroristas sangrentos  para com a  população.
   Em vez de milhões de reais  usados ilegalmente, conforme a mídia tem divulgado  recentemente,  pelo atual  governo  a fim de comprarem  votos  de oposicionistas  para sustar  o  impeachment da presidente Dilma Rousseff,  por que não canalizar aquele dinheiro  público  para  tantos setores públicos sucateados como,  além do horror da criminalidade galopante já mencionada, saúde,  educação, transporte, custo de vida,  juros altíssimos e falência  nos setores  industriais e comerciais.

   Esse seria  o papel  primordial  reservado a um  chefe de governo que  pensa  no bem-estar dos brasileiros. A presidente Dilma Rousseff está pensando apenas em manter-se no  poder, o que é, no mínimo, uma atitude  egoísta  e impatriótica.