Diz um brocardo peloponense que a primeira impressão é a que fica.  Outro acrescenta que assim como são as pessoas são as criaturas; um terceiro garante que tudo é relativo, ou melhor, quase tudo, porque duas verdades são absolutas: a que diz que tudo é relativo e a que assegura que nenhuma nação sobrevive sem cobrar tributos de seus cidadãos; um quarto aforismo afirma que antipatia gratuita custa caro.
 Na verdade, muitas pessoas, até que com elas tenhamos mantido algum contato, de fato, nos parecem antipáticas. O rosto sempre carrancudo, os olhos olhando para aquilo que não querem enxergar; os gestos contidos, esquivos; a introspecção, como que nos indicam que ideal é ficar longe delas. Não raro, gente que assim se apresenta ou se porta, tem nossa opinião mudada a seu respeito tão logo as conhecemos melhor. Com pouca chance de sermos contrariados somos levados a declarar que indivíduos com essas características, geralmente, quando se tornam amigos de outrem, essa amizade é para valer.
 Por outro lado, existem criaturas que fazem questão de parecer e serem antipáticas. Para essas nunca fazemos algo que não mereça um reparo, uma observação, uma crítica. Se manifestam um elogio, invariavelmente, este vem seguido de uma reticência, que se transforma num travessão à primeira oportunidade que tiverem de voltar atrás naquilo que disseram,  a fim de atualizarem sua opinião, retificando sua impressão a respeito daquilo que, num outro momento, foi digno de referência positiva.
 Pessoas com esse triste atributo não merecem confiança. Como confiar em alguém de quem não se pode sequer desconfiar de qual poderá ser sua próxima reação? Esse tipo de indivíduo não é tão raro de se encontrar por aí. Estão em todos os meios e ambientes. Podem ser ricos ou pobres econômica ou financeiramente; na verdade, como seres humanos, são uns coitados. Pensam que o mundo não vive sem eles, que todos lhes devem tributo. Imaginam-se as únicas pessoas sérias e confiáveis do universo. Não soaria leviano afirmar que essa turma se acha imprescindível e que esse lado imponderável, na verdade é uma couraça impenetrável de que se revestem para se protegerem da suposta ineficiência, da mesmice e das falhas que comete quem os rodeiam. A falsa impressão que deixam transparecer é que eles são repositórios de toda a eficiência, inteligência e infalível capacidade de ação inerentes a um ser superior.
 Conviver com pessoas antipáticas, crônica ou geneticamente, não é fácil. O percentual daqueles que conseguem suportá-las por longo tempo é desprezível. Excetuando-se os santos, pode incluir-se na relação dos que preferem manter razoável distância dessa corriola, após terem passado determinado período no mesmo cenário que o deles, os mais inveterados puxa-sacos, os cupinchas; enfim, todo e qualquer ente que possua um mínimo de dignidade, caráter ou bom senso.
 Ninguém é bom o bastante para agradar aos antipáticos ideológicos. De tão egoístas que são, eles não conseguem cativar amigos ou formar grupos permanentes ou duradouros, mesmo com pares da mesma espécie. Os antipáticos assumidos não gostam, ou melhor, não aceitam concorrência. Quando ela pode vir de alguém, sabidamente, mais competente que ele, então, é o fim. Se tiver algum poder exerce-o maquiavelicamente, tentando destruir o concorrente; não possuindo, trata de difamar, espezinhar; busca alguma forma de espalhar a cizânia de modo a colocar em cheque o prestígio ou a integridade moral daquele que, inusitadamente ou não, tornou-se adversário.
 Quando, de fato, a primeira impressão é inapagável, a antipatia se torna indelével.
 Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal e escritor piauiense