Raquel Naveira é poeta e cronista
Raquel Naveira é poeta e cronista

ROSA NUMINOSA: A POESIA INSPIRADA

DE DIEGO MENDES SOUSA

                                                                                             

 

Raquel Naveira

 

Diego Mendes Sousa partilha conosco essa Rosa Numinosa (2022), que é, ao mesmo tempo, o que há de mais real e sensorial em seu fazer poético.

Em tom épico inicia com “Gestas”, que são feitos memoráveis, façanhas dignas de registro. Na parte intitulada “Gestas das Ruínas e dos Telhados Tostados” traz primeiramente a “Gesta da Água”, pois o poeta afirma que “morrem os oceanos em mim” e que sua matéria é a água; “Gesta do Tempo”, esse que passa “voando entre as estrelas”; em “Gesta do Amor”, confessa que, sem sua musa Altair, nada faz sentido,  sem ela “tudo é bálsamo amargo”; em “Gesta do Pantempo” lembra “nos arreios adormecidos da infância”; em “Gesta da Vivência”, escolhe  “outras cores estonteantes a ferir os girassóis e as estrelas”; em “Gesta do Tédio” depara-se com uma noite tão bonita em “o amor, uma flor de intensa coragem!”; “Gesta do Onírico Rio das Muitas Almas” é amazônico como os rios cheios de “as vísceras dos peixes”; em “Gesta das Vazantes Veias”, temos mais “as vazantes e as águas misteriosas”; “Gesta da Coroa de Louros ou de Espinhos” é um canto de amor catártico ao seu pai, pelo simples fato de tê-lo gerado um dia. Gerado um poeta.

Na segunda parte, “Andilhas Surradas”, sobrevoa o Rio Parnaíba manchado de óleo e constata tristemente que “onde era paraíso agora é negrume”; o longo “Coronavírus” foi escrito sob o impacto da pandemia, esse mal sorrateiro, “besta noturna” que acachapou a humanidade. A pandemia trouxe como consequência cruel o isolamento, “a dor da solidão”.

A terceira parte, “Alba da Alma Dispersa”, começa com uma palavra hebraica “Efatá!”, que significa “Abra-te!”. O poeta continua seu périplo com olhos nublados, etéreo, dependendo da “lembrança alheia” como um “morto imaginário”. Lembra então da influência de Stella Leonardos, generosa poeta carioca e de outros vates que o marcaram como Olavo Bilac, Lêdo Ivo, Manuel Bandeira, Jorge Tufic, a quem rende emocionados tributos. A poesia afinal é nuvem, necessidade de evasão, vento no folharal.

Na quarta parte, “Salmos à Gleba das Carnaúbas”, cria poemas telúricos, forja a palavra “malúrico”, expressões como “numinosa rosa de sal”. É a sua “geografia litorânea”. Apresenta-nos seus “rasgos da praia”, onde “bailam gaivotas na distância”. Descreve o solar antigo, o sobradão de Dona Auta, em que ela, solitária, fantasiava a chegada de um amor pleno e erótico em sua vida. Flana por sua terra de cajueiros doces e campos verdes, lagoas e tambores que retumbam.

Juntamente com o designer editorial Paulo Moura, Diego Mendes Sousa concebeu um livro de capa colorida e de ilustrações pertinentes, que transita pelo mistério, pelo mítico, pelo místico e pelo telúrico para nos ofertar uma rosa numinosa, portadora de inspiração divina, que é a própria poesia.

 

Raquel Naveira é poeta e cronista. Membro do PEN Clube do Brasil e da Academia de Letras do Brasil.