ELMAR CARVALHO

 

A internet, como todos sabemos, pode ser usada para o bem e para o mal. Para a caridade e para a maldade. Para a virtude e para o crime. Também aceita as obras de arte mais sublimes, como as de mais baixa qualidade. A música de Beethoven e a da geração Teló. Recebe, pois, o luxo e o lixo, o sintético e o prolixo. Cabe a cada um de nós usá-la da melhor forma possível. Serve para o sadio entretenimento, mas serve também para a desgraça do próprio internauta, quando usada sem sabedoria, mormente quando ele se vicia e fica por longas horas a usá-la indisciplinadamente, perdendo a saúde e bagunçando seu horário de sono e repouso. Perde a saúde porque o seu uso imoderado pode prejudicar a visão, provocar doenças nas articulações (LER) e até nos ossos (por causa de eventual postura inadequada), e mesmo problemas psicológicos, como depressão e doenças mentais, ante longas interações virtuais, e fuga da vida real.

 

Faz poucos dias, recebi o seguinte e-mail de Carlos José Mendes de Araújo, que não conhecia: “Prezado Elmar, boa madrugada! Curiando algo sobre Dom Paulo Hipólito de Souza Libório, deparei-me com a foto do Pe. Ladislau João da Silva (blog de 31.5.2010), amigo comum (meu e seu). Fiquei contente, pois já faz muito tempo que não o vejo. Fomos contemporâneos de Seminário, em Parnaíba – PI e, em se tratando de formação cristã e humana para a vida, isto teve um valor deveras significativo. Ao ler o texto sobre o nosso amigo Pe. Ladislau, ficou-me uma pequena dúvida a respeito do local da ordenação sacerdotal dele, à qual também estive presente, apesar de residir no Distrito Federal desde o dia 19 de março 1974. Salvo engano, o local foi a Igreja de Nossa Senhora de Fátima e não a Catedral de Nossa Senhora da Graça. Reveja a informação com o mesmo carinho dispensado à matéria. Parabéns!”

 

Incontinenti, por e-mail, perguntei ao padre Ladislau João da Silva sobre o local onde ocorrera sua ordenação. Respondeu-me que fora mesmo na Igreja de N. S. de Fátima, pelo que Carlos José está correto em sua emenda. Contudo, como permanece em mim uma lembrança nítida de que vi o padre Ladislau a estender-se no assoalho da velha catedral, suponho que esse fato tenha sido uma espécie de treinamento ou ensaio para a cerimônia grave, solene, de sua ordenação, ou uma outra cerimônia que contivesse esse rito da prostração. Ou pode mesmo ter sido uma falha de minha memória, mas o certo é que o episódio aconteceu, embora em outro templo. Faço, portanto, a correção neste Diário Incontínuo, que pretendo transformar em livro impresso, quando completar sessenta anos de vida.

 

Dom Paulo Hipólito de Souza Libório havia sido diretor do Colégio Diocesano de Teresina, nos idos, aproximadamente, de 1939/1940, período em que meu pai ali estudara, até a morte de seu pai, quando retornou para Barras, a chamado de sua mãe, conforme conto em outra anotação deste Diário. Quando fomos morar em Parnaíba, em junho de 1975, Dom Paulo era o bispo dessa Diocese. De forma cortês, foi nos visitar no apartamento da ECT (Correios), na Praça da Graça, onde morávamos.

 

Quando fui presidente do Diretório Acadêmico “3 de Março”, do Campus Ministro Reis Velloso – UFPI, realizei um torneio esportivo, que levava o nome do padre Raimundo Vieira, que jogara futebol, a exemplo do monsenhor Chaves, e fora diretor do Ginásio São Luiz Gonzaga, da Diocese de Parnaíba. Por essa razão, pedi a Dom Paulo que nos desse a taça, para entrega ao time campeão, o que ele concedeu sem nenhuma dificuldade. O padre Vieira falecera em desastre automobilístico, poucos quilômetros depois da cidade de Buriti dos Lopes, quando se deslocava no sentido Parnaíba – Teresina. No local existe monumento fúnebre em sua memória.

 

Dom Paulo Hipólito, como foi assinalado pelo padre Ladislau, em e-mail que me enviou, foi o primeiro bispo nascido no Piauí (Picos, 10.10.1913), e o primeiro titular da Diocese de Caruaru. Faleceu em Parnaíba, em 31.03.1981. Morou em antigo casarão localizado na rua Olavo Bilac, 1481 – Centro – Teresina. Esse solar se manteve impecavelmente conservado graças aos cuidados e recursos financeiros de seu sobrinho, o professor universitário e teatrólogo Paulo de Tarso Batista Libório, que o transformou em verdadeiro museu de arte sacra. Esse patrimônio artístico e histórico passou recentemente a ser administrado pela Fundação Monsenhor Chaves, já que Dom Paulo Hipólito de Souza Libório foi diretor do Diocesano, vigário geral da Diocese e bispo de Teresina, antes de tomar posse da Diocese de Parnaíba. O museu leva-lhe o episcopal nome.

 

Carlos José, num dos e-mails que me enviou, disse ser parnaibano da Ilha Grande de Santa Isabel, nascido na comunidade Fazendinha, e não “da equivocada Ilha Grande do Piauí, que deveria chamar-se MORROS DA MARIANA”. Concordo inteiramente com ele. Na minha opinião, o acidente geográfico (ilha) deveria continuar sendo chamado de Ilha Grande de Santa Isabel, ao passo que o município, desmembrado de Parnaíba, deveria ser Morros da Mariana, antigo, pitoresco e bonito nome, além de justa homenagem a antiga moradora da localidade. Mesmo porque a ilha grande pertence a dois municípios, e não apenas ao de Ilha Grande do Piauí, como essa denominação parece sugerir.

 

Numa de minhas respostas internéticas, disse-lhe que em minha juventude costumava, em minha motocicleta, percorrer diferentes trilhas da Ilha Grande. Às vezes, ia para o Labino e Pedra do Sal, às vezes seguia para o Igarapé, Morros da Mariana e Tatus. Outras vezes, percorria as margens do Igaraçu, para a simples contemplação da paisagem. Em algumas ocasiões, em companhia do Canindé Correia, Reginaldo Costa, Bernardo Silva, Vicente de Paula (Potência) e outros amigos, ficávamos em um boteco, localizado quase debaixo da ponte de Morros da Mariana, a sorver uns goles de cerveja e a degustar uns caranguejos, grandes, frescos, que chegavam nas canoas, cobertos ainda por folhas do mangue.

 

O boteco ainda existe, mas o seu proprietário, que gostava de tomar umas talagadas de “branquinha”, já partiu para a eternidade. Nesse bar, certa feita, o João Simeão conseguiu uma canoa de motor de popa, não sei se por empréstimo ou se por aluguel. No final do entardecer, já começando o céu a turvar-se, convidou-me para dar uma volta nela, pelos igarapés e manguezais. Não me fiz de rogado, e prontifiquei-me a enfrentar essa aventura, antes diria loucura, já que o João tinha pouco experiência com barco. Felizmente, o motor não funcionou. Talvez hoje fôssemos apenas saudade. Ou, na melhor das hipóteses, tivéssemos ficado à deriva, com o motor enguiçado.

 

Retomando o fio desta nota, passo a palavra a Carlos José: “Quão interessante é para nós a eficácia da "cibernética" nas relações sociais do ser humano da contemporaneidade. Sim, graças a esta possibilidade da comunicação virtual, estamos, concomitantemente, resgatando uma amizade que se encontrava latente (com o Pe. Ladislau) e construindo uma nova amizade (esta com Você). Deus seja louvado! Obrigado, de coração, por estar contribuindo com este fato virtual, porém real”.

 

E a finalizo com o que disse, numa de suas mensagens internéticas, o padre Ladislau: “Obrigado por ter me ajudado a encontrar o paradeiro de Carlos José, meu velho amigo de Seminário e de uma significativa caminhada de fé. Já enviei um e-mail para ele. Você está sendo uma ponte entre eu e ele. Você me fez muito feliz. Foi um gesto fraterno forte. Sinto isso. Você é um instrumento de DEUS. Aliás, sempre foi. Um GRANDE ABRAÇO: Ladislau”. Intervenho apenas para dizer que não mereço estas últimas palavras. Pelo menos não as mereço inteiramente; talvez não as mereça de jeito nenhum. De qualquer sorte, obrigado, padre Ladislau, por dizê-las. Recebo-as como uma dádiva e como um incentivo, para continuar perseverando no caminho do bem.