Cunha e Silva Filho


                          Hoje, à noite, pela Bandeirantes, haverá um debate do segundo turno entre os candidatos ao cobiçado cargo da presidência da República do Brasil. Não sei se outro canal de TV também ainda realizará outro debate. Dizem os entendidos em política que o de hoje será definitivo, decisivo à vitória de um ou outro, e mostrará, ademais, a competência real dos candidatos, já que o tempo pras perguntas, réplicas e treplicas será maior, dando, assim, mais possibilidade de aprofundamento às questões levantadas no debate. Uma coisa, contudo, paira no ar e principalmente na consciência travessa do eleitor que, mais do que nunca, se torna agora o bem móvel mais apetecido de ambos os concorrentes.

                         No fundo, creio que todos os eleitores, excetuados os fanáticos dos dois lados, ainda lutam intimamente com uma boa margem de indecisão quanto à escolha de Dilma ou Serra.
Sabe-se que principalmente deste novo meio de comunicação globalizada vindo pra ficar, a Internet, o internauta vem sendo bombardeado de mensagens relativas aos dois candidatos, as quais, pelo seu conteúdo, quer pulverizando a dignidade de um e de outro, quer lhes fazendo o panegírico de virtudes e qualidades, exerce um forte apelo, com seu canto de sereia, às convicções do eleitorado, até mesmo de eleitores que têm senso crítico acima da média daqueles oriundos de baixa formação cultural.
                       Tanto a candidata Dilma Rousseff quanto o José Serra, através das aliciantes estratégias de marqueteiros ou mesmo de opiniões escritas de figuras de projeção intelectual dos diversos setores sociais, políticos, culturais, religiosos, acadêmicos, são favorecidos e chancelados de tal sorte que, ao final, o eleitor, mesmo politizado, fica um tanto indefinido pro ato final de digitar o nome do candidato na urna eletrônica.
                     No fundo, entendo que a verdade política nada possui de racionalidade ou lógica, precisamente porque, ao decidirmos por um candidato, sofremos as pressões inconscientes, subliminares, influências da família, de amigos, de colegas de trabalho, de interesses inconfessáveis e – por que não declarar – de medo de mudanças caso um candidato de oposição vença o pleito. O desconhecido, o novo possuem algo do mistério, do imprevisível, do incerto. Na situação em que se encontra o país, com economia estável e avanços no poder de compra de parcelas menos aquinhoadas da sociedade, o cidadão eleitor receia alterar o time vencedor. Não lhe agrada o tiro no escuro. Lá no mais profundo do nosso sentimento íntimo, pesamos todos esses componentes formadores de nossas decisões para o ato da escolha sem volta..
                   No jogo dialético entre as acusações de campanha de ambos os candidatos, do que lemos na imprensa, do que ouvimos nas TVs, do que tomamos conhecimento nas redes sociais pela Internet, afora as ponderações, segundo salientamos, de amigos, familiares e de setores representativos da sociedade em geral, do nosso repertório cultural e de experiência de vida, não resta dúvida de que, na última decisão, na solidão da urna eletrônica, exista uma vontade, ainda que meteórica, de permanecermos numa espécie de terceira falsa opção: a de ficar em cima do muro.
Certa ou errada, essa é a vontade que se apodera de mim e pressinto que de outros cidadãos brasileiros diante da grande esfinge eleitoral, da qual dependerá o bem-estar do país e de seu povo ou o fracasso de um novo governo.
                  Em decorrência dessas argumentações e de outras, vejo o quanto é espinhoso compreender as múltiplas motivações que conduzem os indivíduos a escolherem seu candidato. Evidente é que me reporto aqui aos eleitores íntegros e responsáveis ante a decisão derradeira de sua vontade política.
                  A incerteza, o estado de ânimo de ficar em cima do muro fazem parte da natureza humana. Seria uma atitude reprovável? Talvez não inteiramente. Está mais para um “lavar as mãos” à Pilatos. Quer dizer, se uma maioria se decidiu por alguém, entre duas alternativas, que valha a maioria. Ao lavar as mãos,  alguém pode se sentir aliviado do peso da consciência de um possível e lamentável erro. Reconheço, no entanto, ser paradoxal esse raciocínio, porquanto ele se instala no terreno da omissão e esta pode ser prejudicial se tomada por um número considerável de votantes.
                 O eleitor, reconheço, é um ser humano, sujeito ao engano, um ser, portanto, imperfeito, confuso, volúvel e contraditório. Além disso, a possibilidade de permanecer em cima do muro não deixa de ser uma abstração, um ato em potência até saudável, que, de quando em vez, pode se insinuar nas consciências individuais face ao mal-estar das incertezas geradas pelo ceticismo dos desapontamentos e desenganos do eleitorado diante dos políticos do país.