EM BUSCA DA GERAÇÃO PERDIDA E DA ESTAÇÃO SAUDADE
Por Elmar Carvalho Em: 15/10/2015, às 12H00
ELMAR CARVALHO
Sábado passado, dia 10, fui ao lançamento de três livros, em solenidade ocorrida no auditório da Academia Piauiense de Letras. O evento foi presidido por Nelson Nery Costa, presidente do sodalício. O auditório estava quase lotado. No ensejo dessa festa literária, a APL também comemorou o nonagésimo aniversário do acadêmico Manoel Paulo Nunes.
Foram lançados os livros Em busca da Geração Perdida, de Vanessa Negreiros, Modernismo & Vanguarda (4ª série), de M. Paulo Nunes, e Estação Saudade, de Dagoberto Carvalho Jr. Os dois últimos foram editados pela APL, e fazem parte da Coleção Centenário, cujo ritmo de publicação vem acelerado, apesar de eventuais percalços financeiros e outros. O primeiro, que tem como subtítulo “Formação escolar e intelectual de homens de letras em Teresina”, foi editado pela EDUFPI (Editora da Universidade Federal do Piauí), e foi escrito originalmente como dissertação de mestrado, tendo como orientadora Teresinha Queiroz, membro de nossa Academia.
Modernismo & Vanguarda foi prefaciado magistralmente por Reginaldo Miranda, que elaborou na verdade uma espécie de estudo introdutório. Reúne dezenas de artigos ou pequenos ensaios sobre a obra de importantes autores de Portugal, da Espanha e da América Latina, como Eça de Queiroz, Alexandre Herculano, Padre Vieira, José Saramago, Miguel Torga, Garcia Lorca, Pablo Neruda, Jorge Luis Borges e Mario Vargas Llosa.
Como os textos quase sempre se destinavam a publicação em jornal, são pequenos, motivo pelo qual o autor teve que usar o seu considerável poder de síntese, de tal sorte que eles, além do ótimo estilo de que se revestem, possuem denso conteúdo. No momento em que venho lendo ou relendo algumas das mais importantes obras romanescas do exímio mestre Eça de Queiroz (estou lendo agora, em versão digital, pelo aparelho Kindle, a magistral A ilustre casa de Ramires), essas pequenas grandes peças de crítica e análise literária me serão bastante úteis e esclarecedoras.
Não perdi o bonde, e muito menos a esperança. Peguei o trem da Estação Saudade. Essa importante obra de Dagoberto Carvalho Jr. reúne artigos, discursos acadêmicos, velhas crônicas que se encontravam quase perdidas nos escaninhos do autor, exercícios de heráldica e poemas. Dagoberto, assim como o professor Paulo Nunes, é um dos maiores estudiosos da obra literária de Eça de Queiroz, pelo qual nutre profunda admiração, a admiração de um legítimo e fiel devoto.
Os artigos versam diferentes temáticas, sempre de relevante interesse cultural ou literário. A sessão Discursos Acadêmicos enfeixam o de sua posse e os de recepção aos confrades Humberto Soares Guimarães, José Expedito de Carvalho Rêgo e Jônathas de Barros Nunes, além de um proferido na Academia de Artes e Letras de Pernambuco. As crônicas e os poemas são entranhados de suave saudosismo telúrico e lirismo. Ele é um mestre da prosa bem trabalhada, e nos faz lembrar os mestres do classicismo português, porém, como não poderia deixar de ser, temperada de contemporâneas “especiarias”.
Em busca da Geração Perdida é um estudo primoroso sobre a formação escolar e intelectual dos escritores, poetas e demais literatos de Teresina, no corte cronológico que vai de 1930 a 1964. Discorre sobre a Educação e os ideais juvenis em nossa capital, nos anos 30 e 40. Faz um histórico da Faculdade de Direito do Piauí e do Centro Estudantil Piauiense, o contexto histórico e social em que foram criados, suas diretrizes e contribuições à cultura e educação. Estuda a formação dos jovens escritores e se reporta às revistas Voz do Estudante, Zodíaco, Geração, Cultura Acadêmica e o Caderno de Letras Meridiano.
Foi dado ênfase, como o título indica, à autodenominada Geração Perdida, que de perdida não teve nada, porquanto deu ao Piauí intelectuais de alto nível, entre os quais podemos destacar M. Paulo Nunes, grande orador e um dos maiores críticos literários de nosso estado, O. G. Rêgo de Carvalho, por muitos considerado nosso melhor romancista, e H. Dobal, um dos maiores poetas brasileiros, que tive a honra de suceder em nossa Academia Piauiense.
Além de sua alta qualidade de pesquisadora, com consulta a livros, revistas, documentos, realização de entrevistas, etc., a professora Vanessa Negreiros realizou um belo trabalho, em linguagem clara, objetiva, sem supérfluos malabarismos e firulas estilísticas. Suas frases afirmativas, diretas, sem empolações, permitem o imediato entendimento do que está sendo exposto.
Coroando essa excelente festa literária, em que todos os autores usaram da palavra, o mestre Celso Barros Coelho, ao saudar Manoel Paulo Nunes, pelo lançamento de seu livro Modernismo & Vanguarda, e do Em busca da Geração Perdida, que estuda a sua geração literária, e pela comemoração de seus noventa anos de vida, mostrou que ainda é o maior tribuno do Piauí, não obstante os seus 94 anos de idade. Em elegante e sutil auto-ironia, ao falar de sua provecta (e profícua) idade, disse que apenas quatro coisas melhoram com a velhice: a amizade, o vinho, os livros e a madeira para lenha.
Com efeito, Francis Bacon dizia que a idade é boa em quatro situações: “na madeira velha para queimar, nos velhos amigos para confiar, nos velhos autores para ler e no vinho velho para beber”. O nosso Celso, excelso orador, assim como Paulo Nunes, está melhor com o avançar dos anos. E como Napoleão, no poema com esse título, de Fagundes Varela, bem poderia entoar, em paráfrase: “Eu inda sou Celso Barros”.