foto
foto

13. ELEAZAR DE CARVALHO EM MANAUS

- Mas uma concha acústica é indispensável para a realização de concertos nas salas de espetáculos, disse José Brandão, já suado e nervoso.

- Sim, mas nós não temos...

- Como não? Gritou o outro. Por que não?

- Nós tínhamos uma caixa acústica... chamada de “caixa timpânica”... mas foi retirada nas reformas do governo Efigênio Sales.

- O que é uma caixa timpânica, perguntou o deputado Lourival Gadelha que estava perto.

- É um equipamento cênico que tem a dimensão total da área de cena e que se monta e desmonta no palco sempre que necessário.

- Sim.

- São paredes laterais, parede de fundo e teto, feitas de material refletor acústico. Envolvem a orquestra, disse Brandão.

- Sim, concordou, o deputado.

Essas paredes oblíquas entre si, em ângulos criteriosamente definidos, de forma a garantir os níveis de reflexão e reverberação adequados, dando melhor audição para o público e músicos. O som tem que ser jogado para fora do palco uniformemente, permitindo o equilíbrio das diversas sonoridades de acordo com a formação da orquestra.

- E quando não estão sendo utilizadas?

- Elas saem. São móveis.

- Explique melhor, repetiu o deputado.

- Os diversos instrumentos emitem diferentes sons em todas as direções, disse Brandão, e uma considerável parte desses sons se perde no volume da caixa de palco, ao invés de preencher acusticamente a sala de espetáculo. A concha acústica conduz a sonoridade para o público, garantindo uma boa audiência em todas as partes da sala de espetáculo.

- Entendi, disse o deputado.

- Outra questão da maior importância é que os músicos têm de ouvir muito bem uns aos outros, para conseguirem tocar em harmonia. E o solista, para o bom desempenho do solista, é fundamental garantir o que chamamos de conforto acústico.

- Sim. Sim. E agora? Que faremos?

- Uma caixa de palco como a do Teatro Amazonas sem uma concha acústica montada se revela como o pior espaço possível para um concerto. Os sons se misturam, viram barulho.

Foi chegando o Maestro Eleazar de Carvalho e todos se calaram de repente.

A Orquestra Sinfônica de São Paulo, naquele ano de 1981, se apresentaria no Teatro Amazonas, com seus 87 músicos.

- Como está a acústica, Maestro, perguntou, timidamente e temeroso, João Brandão.

- Péssima, respondeu Eleazar. Péssima. A acústica não é boa para a orquestra, esta muito seca.

- Para compensar essa deficiência são necessários muitos instrumentos, explicou. E depois de olhar em volta:

- O espaço é insuficiente para reverberar, para rebater o som.

- Como assim? Perguntou o deputado.

- Por exemplo: cada som tem de percorrer 152 metros e voltar. Aqui ele

vai (ele fez um gesto), e quando volta o outro ainda está saindo.

Foi interrompido por João Brandão, o engenheiro do som:

- Maestro, verificamos que há um porão vazio nas mesmas dimensões do palco, aqui abaixo de nós... E que lá em cima tem uma caixa d’água.

- Ótimo, respondeu Eleazar de Carvalho. Serão usados como “caixas de ressonância”.

Foram ver a “caixa d’água”: era a tal “caixa-timpânica” que por um mecanismo de correntes descia até atrás da caixa do palco, fechando-a.

Era a primeira vez que Eleazar se apresentava em Manaus. Sua apresentação foi um sucesso.

ROGEL SAMUEL: TEATRO AMAZONAS.

Pode ser uma imagem de ao ar livre