Ele foi o grande poeta da ficção científica
Em: 11/06/2012, às 20H08
Miguel Carqueija - especial para o Entretextos
Eu era criança ou adolescente quando li pela primeira vez Ray Bradbury, sem saber quem era Ray Bradbury. Foi um conto "mainstream" muito singelo, passado na Guerra Civil Americana: "O tambor de Shiloh". Estava numa das revistas Seleções que sempre abundaram lá em casa desde o tempo dos meus pais, e que eu sempre tive prazer el ler. A primeira FC de Bradbury que pude ler foi "O dragão", que saiu na antologia "De Julio Verne aos astronautas" (volume 100 da Coleção Argonauta, de Portugal). Era surpreendente, filosófico, de final impactante em sua lógica cortante. A veia poética de Bradbury mostra-se em seu esplendor. Ele era um poeta da prosa, seu sentido do belo era exacerbado. É por isso que num romance intitulado "O vinho da alegria", embora conte uma história até prosaica, Ray consegue tangenciar um mundo fantástico, um mundo de maravilha, entrevisto no simples descrever de acontecimentos dentro do plano natural, sem sequer antecipações científicas. Dele também pude ler "Crônicas marcianas", "O homem ilustrado", "Fahrenheit 451" e "Os frutos dourados do Sol". Bradbury era um homem profundamente religioso, como se pode perceber nos seus textos. Ele não aderiu, graças a Deus, ao modismo materialista que contaminou as novas gerações de escritores. Era uma alma pura, como a de Walt Disney, de quem foi amigo. Aliás, Bradbury aparece no documentário "Walt Disney: o homem por trás do mito" (2001). E como Walt Disney, ele fará muita falta. Sinto que o mundo ficou algo mais pobre.