Por Antônio Francisco Sousa

    Conhecido político piauiense, certa feita, chegou a se mostrar inconformado com o preço de mercado dos livros. Um acinte, julgava. Na verdade, mesmo quem gosta imensamente de ler, por vezes, dado o salário minguado que percebe, tem que fazer sacrifícios sobre-humanos para adquiri-los. Parece que o parlamentar desistiu de tentar fazê-los acessíveis a todos e, a cada dia, mais distantes ficam de nossa realidade.
    Mas por que são eles tão caros ?
    Os custos de produção, até dos de padrão médio, são altos. A esses se agregam os dispêndios com publicidade e lançamento. Ademais, é duro admitir, mas um livro que não tenha uma capa bonita, encadernação luxuosa, dificilmente vira objeto de desejo de quem os procura para presentear amigos. Logicamente, os patinhos feios precisam de uma maior carga de propaganda. E, até eles, vão às nuvens.
    À exceção de umas poucas - e, entre as excluídas, não estão as ditas concorrentes aos famosos ISOS (certificados de qualidade total), que, quando recebem livros de não famosos, invariavelmente, separam-nos dos ícones da literatura comercial, como se para não os contaminar - a maioria das livrarias  funciona como butiques, com sutis diferenças. Como essas, aquelas expõem em suas vitrinas a mercadoria (livros) e esperam que o interessado vá comprá-los; tantas vezes, a própria nota fiscal de venda relutam em emitir. A propósito, todo merchandising é feito pelo autor ou por sua editora. Por esse preciosíssimo serviço de exposição, no entanto, chegam a cobrar até cinqüenta por cento do preço de capa. As butiques tradicionais, é verdade,  compram barato e vendem caro, mas, pelo menos, acrescentam ao preço de aquisição o custo  que arcam, referente à publicidade; além disso, comercializam produto/mercadoria sazonal; às vezes, supérflua.
    Nem todas as livrarias (ou livreiros) compram livros, recebem-nos em consignação, uma espécie de corretagem. Não se justifica, pois, tanta exploração. Por isso, não há como  eximi-las da condição de co-responsáveis pelo encarecimento dos mesmos.
    No Brasil, sabe-se que poucos conseguem sobreviver de sua produção literária ou de livros didáticos. É lógico que dispomos de grandes escritores, mas esses nem sempre são best-sellers, falta-lhes o patrocínio de poderosas facções da mídia ou serem adotados por instituições educacionais públicas e privados. O lado triste disso é que ótimos autores, aqueles aos quais a crítica especializada e os meios intelectuais recomendam e até elogiam, que poderiam ter disseminada sua leitura a um leque maior de pessoas, são conhecidos, não raro, somente pelos que lêem por prazer.

    Antônio Francisco Sousa é escritor e Auditor Fiscal