0

 

Antes de me casar eu tinha seis teorias sobre como educar aos filhos. Agora tenho seis filhos, e não me resta nenhuma teoria.
John Wilmot
Em 25 anos de exercício do magistério – trabalhando exclusivamente com adolescentes – já vivi muita coisa. No entanto, não há ano que não me surpreenda com alguma situação inusitada, constrangedora e até vergonhosa. A questão é que esses momentos “surpreendentes” geralmente acontecem nos finais de ano, quase sempre quando os resultados são divulgados.
De uma hora para outra, pais que nunca deram o ar de sua graça “chovem” sobre a escola e, consequentemente, sobre os professores. Com eles trazem uma avalanche de queixas, acusações e exigências. De repente, a escola (até então pouco visitada) não fez o necessário e suficiente pelos filhos, incluindo informar a esses pais revoltados sobre como iam suas “crianças”.
Furiosos, eles se esquecem de um documento emitido por todas as escolas a cada bimestre ou trimestre. Do mesmo modo, ignoram as várias correspondências que receberam convidando-os a comparecer, não só às reuniões pedagógicas, como à entrega desse documento tão pouco valorizado, o “Boletim Escolar”. Inclusive, com as novas mídias eletrônicas, há pais que passaram a utilizar, quase que exclusivamente, e-mails e torpedos para receber notícias de seus filhos. Afinal, para que se fazer presente na escola quando existem tantos meios virtuais à disposição? Sem falar nos defensores do conceito de autonomia absoluta:
“ Pai:
- Meu filho é suficientemente maduro para receber as avaliações. Não há necessidade da minha presença na escola.
Professor ou coordenador pedagógico:
- Mas ele tem apenas 15 anos!
Pai:
- Não importa. Nós o criamos para lidar com as situações da vida.
Professor ou coordenador pedagógico:
- Mas...
O telefone é desligado.”
É óbvio que todo esse discurso muda quando o dito filho “autônomo” de pais que se autodenominam “modernos” chega em casa dizendo que está em recuperação e correndo o risco de ser reprovado. Desse momento em diante a virtualidade, os novos meios de comunicação e a alardeada autonomia perdem o encanto. Neste instante, pais indignados cobram da escola atitudes que desde o início deveriam ter sido deles.
Como disse antes, em 25 anos de profissão já vivi de tudo. Pais cobrando da escola atitudes que durante o ano não se deram ao trabalho de exigir. Pais inventando desculpas, não só por suas ausências, mas também, para o mau comportamento dos filhos. E pais exercendo o poder de pagantes (clientes) com o objetivo de ter suas demandas atendidas.
Por favor, não pensem que estou querendo demonizar os pais isentando as escolas de suas responsabilidades. Ao contrário. Todos – pais, alunos, professores e escola – precisam ter claro quais são os seus papéis dentro desse contexto maior chamado educação. Afinal, educar não é brincadeira!
Assim como a escola deve oferecer um espaço de aprendizagem de qualidade, com profissionais bem preparados, os pais devem assumir a missão de participar ativamente do processo educacional. Isso significa estar ao lado dos filhos em todos os momentos necessários e pertinentes. Logo, não basta deixar a criança ou o adolescente na porta da escola às 7h30min para ir buscá-lo às 18 h, acreditando que com isso está fazendo o melhor. Não, não está. Afinal, escola não é depósito!
Além disso, toda essa situação complica-se ainda mais quando os pais, por alguma razão que só eles conhecem, se sentem culpados em relação aos filhos. Nesses casos, o caminho costuma ser sempre o mesmo: a superproteção, o que inclui um amplo espectro de atitudes que dificultam o amadurecimento da criança e, em especial, do adolescente. Conheci mães que liam os livros recomendados aos filhos com a desculpa que se não o fizessem eles não seriam aprovados. Ouvi ameaças veladas e explícitas de pais ausentes durante todo o ano letivo, mas que ao se depararem com um resultado insatisfatório jogaram sobre os ombros dos professores toda a responsabilidade. Afinal, para diminuir a sua culpa é sempre mais fácil culpar o outro. O problema é que quando se trata de educação esse jogo de empurra-empurra não funciona.
Educar bem demanda tempo, dedicação e ao contrário do que alguns pais pensam, não custa caro. Fui professora de escola pública e nela tive a oportunidade de encontrar alunos respeitosos, que valorizavam o trabalho dos professores e o esforço de seus pais em mantê-los na escola. A educação fica cara quando os pais, a fim de expurgarem as culpas, reais e imaginárias, protegem e abafam os filhos e, para piorar, acreditam que pagando estarão isentos de suas obrigações.
Sim, educar não é brincadeira! Requer presença e apoio permanentes. Exige deixar sentimentos de culpa de lado, pois eles escondem os verdadeiros problemas por detrás de uma fumaça de autocomiseração. Educar é coisa muito séria porque, como disse Paulo Freire, é um ato de coragem.