Dos atropelos de acordar

[Pedro Henrique Saraiva]

Fala-se muita tolice, por todo canto... Mas, no instante do acordar de uma anestesia, para muita gente, a coisa fica séria... Tem quem extrapole. Quem já acordou de anestesia ou presenciou alguém nessa situação acho que já começa a prever mais graça no texto.

Li anteontem um texto de Clarice Lispector. Não era esse o tema principal, mas ela contou: assim que viu o filho nascer, ainda anestesiada, disse que achou a criança muito feia e depois custou a fazer o marido entender e perdoar o ato.

Juro que vi, numa foto de família, uma parenta, que não vou revelar quem, fazendo cara de nojo para sua criança. Estava também na mesma situação da Clarice: sob efeito de anestesia, após o parto, e vendo a cria pela primeira vez.

Realmente, acho a maioria dos recém-nascidos feios mesmo..., mas a reação dela foi mais por causa da anestesia, tenho certeza. Até porque, hoje, essa criança é muito lindinha.

Eu também já acordei de anestesia geral.

Quando acordei de uma cirurgia de hérnia umbilical, ainda sob efeito da injeção que me tirou momentaneamente do fio com o real, falei muita conversa feia para minha mãe. Foi o que me disseram. Graças à Deus, não lembro o que disse...

Pedro Henrique Saraiva é estudante de jornalismo e amante da música