Discurso de Lançamento

 [Por Maria do Socorro Lages Gonçalves]

Estimados familiares e amigos,
É com incontida emoção que participo deste encontro dos descendentes de vovó Rosinha e vovô Alfredo. Sou grata ao Senhor por este momento.
Narrar o passado de nossos avós, enaltecer os sentimentos de amor, de admiração e de carinho por nossos pais e chegar à origem da família Lages do Piauí era um antigo sonho. Daí surgiu a ideia de fazer este livro.
Para esta jornada, formei uma equipe de primas e primos, representantes de todos os filhos de nossos avós e, juntos, definimos por onde e como desejávamos caminhar. Um dos maiores desafios a enfrentar: já não podíamos contar com nossos pais, principal fonte de informações do passado da família.
Como já esperávamos, no caminho da coleta dos dados de nossa família, a estrada não teve somente vias retas, passamos por curvas e quebra-molas, mas contamos com a valiosa contribuição de livros clássicos de genealogia, a valorosa força da memória e o amor por nossos pais.  A união, a participação e a decisão de todos fizeram com que  chegássemos ao lugar almejado.
Iniciei nosso livro apresentando três relíquias de nossos avós: assinatura do vovô Alfredo, carta de vovó Rosinha para sua irmã Magda e carta de vovô Alfredo para seu filho e nosso tio Manoel. Em seguida, construí  a árvore genealógica dos antecedentes de nossos  avós  e as famílias que se entrelaçaram: Lages, Rêgo, Castelo Branco, Pires Ferreira, Carvalho de Almeida, Borges Leal e Gomes Rebêlo. Prosseguindo, relacionei  nossos bisavós, paternos e maternos, com os seus respectivos filhos e netos. Cometei a relação de parentesco entre os nossos antepassados. Relatei a participação da Família Lages na política. Finalmente, cheguei ao capitulo final, narrando sobre nossos avós e seus descendentes; a fazenda Esperança, lugar-berço de suas vidas; e fizemos uma  homenagem  a nossos pais, com memórias sobre eles, um pouco da história de cada um deles.
Alfredo e Rosinha (como assim eram chamados) tiveram 13 filhos: Alzira, Alceu, Maria (Sinharinha) Edson, Clarice, Alcides, Edith, Gladston (Tonzinho), Mary, Manoel, Nazareth, Haydée e José, dos quais três: Alceu, Edson e Clarice faleceram ainda crianças. Esse matrimônio teve uma vida muito curta, porque vovó Rosinha faleceu aos 32 anos de idade, em consequência de um parto mal sucedido.
Vovô Alfredo ficou com dez filhos com idades de 17 anos, 14, 9, 7, 5, 4, 3, 2 e 1 ano. A princípio, contava com ajuda de sua mãe Maria da Assumpção Pires Ferreira, com quem ele morava. Entretanto, após dez meses da ausência de vovó Rosinha, vovô Alfredo perde também sua mãe. Foi nessa época que contou com a participação efetiva de Isaura Pires Ferreira (sua sobrinha) e Magdalena Rebêlo do Rêgo (sua cunhada), na criação de seus filhos, que dedicaram àquelas crianças o amor e carinho de mãe, às quais, em memória, rendemos nossa gratidão.
A história de vovô Alfredo é também um pedaço precioso da história de uma Barras do Marataoã, intensamente influenciada pelas fazendas como elemento econômico e cultural de uma região, sendo a antiga Esperança uma das mais respeitadas propriedades rurais da primeira metade do século XX. Recuperar essa história é, pois, resgatar não somente o percurso de um dos braços da família Pires Lages de Barras, mas também, principalmente, criar as condições para que se compreenda, por meio da publicação de um livro, como se vivia nas antigas fazendas – vivências que, na grande maioria de nós, é mais do que saudade, uma reminiscência forte que não desgruda de nossos sentidos: as cores, gostos, cheiros e ruídos da fazenda e suas figuras afetivas personificadas em Alfredo Pires Lages valem como um chip pregado à nossa pele, cravado em nosso coração. Razão maior para estarmos todos aqui: de olho no passado, celebrando o presente, na esperança de um futuro de felicidades renovadas e da perenidade dos laços familiares que unem a todos nós.
Para contar a história de Alfredo e Rosinha, recorremos à farta pesquisa bibliográfica existente sobre nossos antecedentes. Foram vitais as pesquisas do Dr. Edgardo Pires Ferreira, que dedicou – e dedica – parcela significativa de sua vida a estudar os liames entre as famílias colonizadoras do Norte do Piauí, elaborando um dos mais sólidos estudos de genealogia em língua portuguesa. Os estudos bibliográficos realizados em sua obra A mística do parentesco, hoje totalmente disponível na web, favoreceram que reconstruíssemos a existência dos antepassados de Alfredo e Rosinha, por linha materna. Para nossa alegria, contamos com descrição a punho de alguns dos descendentes de nossos avós, feita especialmente pelo genealogista, a fim de integrar a obra ora lançada.
Igualmente importantes, outras fontes bibliográficas ainda quase desconhecidas em livro entre nós, como a descrição do renomado escritor Humberto de Campos, um dos mais lindos escritores das primeiras décadas do século XX, sobre o General Firmino Pires Ferreira, tio de vovó Alfredo, e um telegrama do irmão mais velho de vovó, de nome Manoel, informando ao seu primo Fileto Pires Ferreira sobre plano para arrancá-lo do governo do Amazonas.
Aproveitamos o ensejo, para agradecer de público ao primo Dilson Lages Monteiro, escritor, poeta, romancista e professor, pela valiosa contribuição em todas as etapas de elaboração de nosso livro. Agradeço, também, ao romancista e historiador Gilberto de Abreu Sodré Carvalho, carioca de raízes ficadas em Barras e cidade pela qual nutre um amor incondicional, a gentil acolhida para que escrevesse as notas de apresentação do livro.
Importantes as inúmeras descobertas que os relatos da memória oral nos trouxeram. Relatos dos netos de Alfredo, de sobrinhos e de outros que o conheceram e partilharam de algum modo de sua convivência, pelos quais somos efusivamente gratos. A partir das informações obtidas e de nossas memórias, a imagem que dele nos fica é a de um homem apaixonado pela família e pela vida no campo. De um homem querido pelo exercício da generosidade e do respeito. De um homem cuja ambição maior era valorizar a humildade e a pacificação.
Olhamos para o passado agora e enxergamos também, na nossa história, a vida de Alfredo e Rosinha, também a vida de cada um de seus ascendentes, os nossos ascendentes, registrada e compartilhada como se fosse a nossa história pessoal, porque também o é. Somos as nossas circunstâncias, oportunidades, projetos, renúncias, sonhos etc, mas também somos os que vieram antes de nós, sem que muitas vezes não percebamos com a clareza necessária.
O resultado obtido pelo mergulho na história de Alfredo e Rosinha nos  gratifica, na certeza de que, caminhamos “ felizes, porque tocamos com a alma e enxergamos com o coração”. Por isso, apresento, neste momento, o resultado de nosso trabalho: Alfredo e Rosa e a Descendência da Esperança. Por meio desta publicação, oferecemos aos nossos descendentes, o registro de nossa origem e a história de seus antecedentes. Por meio dela, asseguramos como já supracitado, a preservação de parte da história de Barras, que se confunde com os caminhos trilhados pela obstinação, entusiasmo e amor dos que vieram antes de nós.
Faço aqui um parêntese, para destacar a colaboração do presidente da Academia Piauiense de Letras, aqui presente, Dr. Nelson Nery Costa. Em 2017, a academia  comemora cem anos de fundação, e o seu presidente está promovendo o resgate de mais de uma centena de livros de autores piauienses. Dr. Nelson Nery Costa  convidou-me a que o livro sobre vovô Alfredo e vovó Rosinha integrasse a Coleção Século XXI, daquela casa de letras.
Firmamos a parceria. Aceitamos o convite e de público agradecemos o suporte na diagramação e formalização da obra, ou seja, ficha-catalográfica (essa ficha que permite o cadastramento do livro em bibliotecas), ISBN (esse número de registro        que assegura a existência jurídica do livro, com registro na Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro) e código de Barras (esse código que favorece a comercialização do livro). A mim, coube além da organização e escritura, o ônus financeiro da impressão junto à gráfica Halley. O significado é essa alegria de olhar para o livro e ter a impressão viva de que meu avô Alfredo e minha avó Rosinha, assim como meus pais, Celso e Nazareth, estão aqui compartilhando deste momento único.
Que este livro encontre eco nos corações de cada um de vocês é meu desejo sincero e de todos que direta ou indiretamente colaboraram para que a história de Alfredo Pires Lages e Rosa Rebêlo do Rêgo ficasse para sempre na memória de sua gente. Minha emoção não tem tamanho e, por isso, acredito que é também a emoção de cada um de vocês: Alfredo e Rosinha, assim como nossos pais, filhos, netos e as gerações que os sucederem estarão para sempre conosco.
Muito obrigada pela atenção e carinho de cada um de vocês não apenas pela felicidade desta publicação, mas também pela boa acolhida de nós reunirmos para celebrar a família e fortalecer, entre nós, os laços de convivência e apreço. Muito obrigada. Que Deus abençoe e habite, com o poder transformador que lhe é próprio e grandioso, o coração de cada um de vocês.
Que Deus abençoe esta iniciativa. Muito obrigada!
Maria do Socorro Lages Gonçalves, autora de Alfredo e Rosa e A descendência da Esperança – A Família Pires Lages de Barras do Marataoã.
 
O editor de Entretextos, Dílson Lages Monteiro, e a autora de Alfredo e Rosa e a Descendência da Esperança -- A Família Pires Lages de Barras do Marataoã.