Dílson Lages: Estação das águas

[Dílson Lages Monteiro]

 

A chuva desaba sobre os estradões de piçarra

como as folhas secas das copas das árvores

a areia se esparrama nos caminhos

abrindo grotas para a sede dos bichos.

 

Escurece o céu de nuvens

repetindo o ritmo das estações

no espelho das águas refletido

o verde das matas aviva-se.

 

Desequilibro-me em sensações tantas:

até a tranquila e silenciosa paisagem

age sobre mim seu couro curtido de sol

e o peso duradouro da terra parada.

 

Falta-me o ar ao peito

de tanto respirar a emoção

concentro-me no centro da tarde

silenciosamente sábia

 

em seu cio de abundâncias e belezas

e em sua palavra convulsiva

de adjetivos perdidos e achados

na água descendo suave das fontes.