[Maria do Rosário Pedreira]

Os artigos a favor e contra o Acordo Ortográfico, vindos de quem usa a caneta profissionalmente e de quem nada tem, à partida, que ver com as questões da língua, mas quer, mesmo assim, dar a sua opinião, têm-se multiplicado nas últimas semanas. Só para dar dois exemplos, no mesmo sábado escreveram sobre o assunto nos jornais Pedro Mexia e Bagão Félix, ambos contra o dito. Não escondo que também não me agrada o acordo e continuo a escrever à maneira antiga (as coisas antigas têm certo charme, de resto, mas não é por isso), embora a publicar alguns autores que já usam a nova ortografia. Mas agora fui colocada perante um dilema. Encomendaram-me um livro para crianças (de que falarei oportunamente), e o meu computador, que reclama actualizações semanalmente, começou a corrigir-me os "supostos" erros. Era realmente meia dúzia de palavras que perdiam o C (como espectáculo e electricidade) e pouco mais; mas, antes de lhes devolver a consoante desaparecida, pus-me a pensar que as crianças daquela idade já têm os manuais e livros de leitura com a nova ortografia e se calhar só lhes vou arranjar sarilhos numa idade em que precisam é de aprender a ler e escrever com o mínimo de ruído possível. Devo ser consistente ou volátil? Egoísta ou altruísta? Reservar a ortografia do meu coração só para quem a aprendeu nos bancos da escola e usar a nova para os fedelhos? Que fazer, em suma?