Diário de viagem

A caminho de Strasburg descubro que recupero o pouco francês que já falei. Faz muito calor, mesmo para mim. O ônibus vem de Marlenheim, na Alsace, onde aluguei um apartamento na Place Maréchal Leclerc, no 9, do senhor Alphonse Krieger. Às margens da estrada vinícolas estonteantes, embriagadoras. Campos. A música dentro do ônibus é americana. Seria melhor não tê-la. Gostaria de morar por aqui, me sinto em casa. Vinho branco artesanal, servido pela simpática senhora. Os franceses por aqui também falam alemão. Amanhã retorno para Paris, onde jantei há duas semanas com os amigos Marilene e Marcílio, num restaurante oriental. Eles estão na rue de La Roquete. Há duas semanas que não tenho notícias do Brasil, nem das eleições. Não tenho Internet em Marlenheim, vilarejo francês com aspecto alemão. Espero encontrar notícias do Brasil em Strasburg. Vou-me encontrar lá. Ao longe já vejo a catedral. Um sonho. Um poema:
os dedos na muralha
aqui o tempo
do sol e das chuvas consentidas
verão
com minhas luvas de musgo
submersas na água
pedaços de sabre
centímetros de aço
as sombras estão caladas
a verdade não abre suas salas
esta muralha não falha
 pedras carejadas
da muralha antiga
a muralha não fala
está morta