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DIÁRIO

Elmar Carvalho

23/03/2020

            Na quinta-feira, dia 20, movida talvez por certa inquietude provocada por nossa quarentena contra o temível coronavírus, ainda mais que eu e ela nos enquadramos nos grupos de risco dos idosos e dos hipertensos, a Fátima foi descartar alguns papéis e objetos de uma gaveta, quando encontrou dois textos, que não faz muitos dias estive recordando.

            Um se chama A Banca do Distinto, que foi uma espécie de presente enviado por um “amigo”, no Natal de 2005, quando eu, aos 49 anos de idade, passava uns dias de folga em Parnaíba. O autor vergasta os arrogantes e soberbos, e lhes roga uma série de pragas, metafóricas ou não, explícitas ou implícitas, de cunho algo jocoso. Na verdade, trata-se da letra de uma música de Billy Blanco, que foi maviosamente interpretada pela inesquecível Elis Regina. 

Quem me conhece sabe muito bem que não sou e nem nunca fui arrogante e muito menos soberbo; ao contrário, sempre fui tido na conta de humilde, embora eu mesmo não costume me atribuir essa virtude, porquanto isso já corresponderia a perdê-la.

O outro texto, datado de Parnaíba, 01/01/2006, é a minha resposta ao “amigo”, de há muito já perdoado, remetente da catilinária praguejadora, que segue abaixo:

“Agradeço-o muito pelo texto “filosófico” que o senhor me enviou. Para mim, teve o significado de um Cartão de Natal” e de Ano Novo. É sabido que cada um só pode dar as dádivas que tem.

E agradeço mais ainda a Deus pelo fato de que nenhuma das sentenças do referido texto serem condizentes com a minha personalidade, pois sou um homem humilde e temente a Deus, e tenho procurado tratar bem o meu semelhante, principalmente os mais pobres e mais humildes, visto que Deus me poupou da necessidade de ter de bajular os considerados ricos e poderosos. Mesmo porque, sendo um assalariado e pai de família, conheço muito bem os percalços e “apertos” da vida.

Infelizmente, sou criticado, por pessoas que não me conhecem bem, muito mais pelas minhas qualidades do que pelos meus defeitos, porquanto sou criticado pelo fato de ter estudado, por ter me esforçado para passar em concursos públicos e em vestibulares, e por não precisar mendigar benesses indevidas.

Rogo a Deus para não temer o termo de meus dias, e agora peço para ser um bom adubo para os frutos e para as flores do Senhor, pois todos nós, um dia, iremos repousar no ventre amigo da mãe terra.

Que Deus nos ajude a nos tornarmos cada dia melhores, para que todo dia cresçamos espiritualmente, e para que, a cada momento, nos tornemos mais generosos e fraternos.

Que nos aproximemos cada vez mais do bom, do bem e do belo, na escada e na escalada infinita para o ALTÍSSIMO!

E que Deus nos abençoe, nos proteja e nos guarde em sua mão poderosa.

Por fim, desejo-lhe um Ano Novo repleto de realizações, saúde e felicidade.”

Tempos depois, ingênua e candidamente, o remetente me explicou que, andando pelas ruas de Parnaíba, encontrara aquele texto de A Banca do Distinto, e “só” se lembrara de mim. Engraçado, o município já tinha mais de cento e tantos mil habitantes, e logo eu, que sequer residia nele, fui o agraciado com a epigramática oferenda. 

Não posso deixar de me sentir um privilegiado.