DIÁLOGO COM TODAS AS COISAS
Por Cunha e Silva Filho Em: 03/09/2025, às 01H21
FRANCISCO DA CUNHA *****
(BRAZILIA)
Dialogo com todas as coisas
Com pouca informação sobre o autor, o poeta
piauiense Nathan Sousa, 43 anos, sem lhe conhecer
a produção até agora editada, me
agarro a seu mais recente livro publicado, Dois
olhos sobre a louça branca (Guaratinguetá:
Penalux, 2016, 85 p.). Essa editora vem publicando
outros poetas e ensaístas, alguns dos quais conheço,
como Luiz Filho de Oliveira, poeta piauiense, e
Valdemar Valente, ensaísta.
Residindo no Rio de Janeiro há tanto tempo, não
tenho condições de acompanhar tudo que tem sido
publicado no Piauí, sobretudo seus autores
mais jovens ou menos jovens..O que me vem ao
conhecimento é quase por acaso. As minhas
referências aos novos autores vou buscar nos
poucos historiadores literários de que o Piauí
dispõe, como Francisco Miguel de Moura e
Herculano Moraes. Como diria os mais velhos até
do que eu, de um assentada li o livro
em exame. Leitura rápida que me impulsionava a ir
adiante. Foi o que fiz e posso adiantar: não foi
tempo perdido. O jovem poeta como aconteceu
com Luiz Filho de Oliveira, me surpreende por
várias razões, (com a sensação estranha e satisfação
com que li o poeta Elmar Carvalho nos
anos 1990 e quando lhe analisei a obra poética nos
anos seguintes), em especial pela qualidade
inquestionável de seus versos. Eu tentei ver se na
obra de Nathan poderia encontrar uma imperfeição,
seja de natureza da linguagem literária, seja da
própria elaboração da sua fatura poética, a meu
singular, original, na qual, a palavra, a frase, a
estrofe e o poema inteiro vão-nos deleitando pela
leque de situações formais e humanas levantadas
pelo autor.
Aposto na consagração desse poeta e logo logo
na sua visibilidade fora dos limites do Piauí.
Nathan Sousa nos enseja uma poética que muito se
aproxima do âmbito filosófico, sem, no entanto,
desprezar a concretude da vida, a realidade
quotidiana e seus problemas e impasses, os objetos
inanimados, a flora, a fauna, coisas em geral, i.e. o
mundo natural e o mundo cultural, Tudo no livro
parece querer atingir uma dimensão
universal. Em Nathan nada lhe escapa ao que se
convenciona denominar de mundo real e mundo
abstrato. Luz, sombra e mitos. Por isso, sua
poesia é tão invadida por objetos, coisas, seres
humanos ou irracionais, pela frequência alusiva, ou
seja, pelo intertextualidade, quer
endoliterária, quer exoliterária (Cf. Vítor Manuel
de Aguiar e Silva. Teoria
da literatura. 8 ed. 19ª impressão. Coimbra:
Livraria Almedina, 2011, p. 629-630), um traço
muito comum nos poetas de hoje e já anunciado,
conforme amiúde tenho repetido, desde a previsão
do crítico literário inglês I.A. Richards (1893-
1979).
Optou – seria o termo certo para uma poesia
constelada de signos, metáforas e símbolos? - por
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um poesia de corte contraditoriamente
aristocrático, na qual os verso resultam de poderosa
imagística que toca em muitos ângulos do se podia
rotular de grande poema em todas as
épocas. Contudo – cabe ressaltar - o adjetivo
“aristocrático,” aqui particularmente empregado,
não tem nada a ver com um poesia
tradicional parnasiana ou neo-parnasiana. Longe
disso. O adjetivo refere a um tipo de poesia
inapelavelmente pós-moderna no sentido mais lato
possível. Quer dizer, uma poesia que supera as
vanguardas brasileira a partir das mudanças
efetuadas pelo Concretismo de 1956 e outras
formas de vanguardas pós-concretistas. Nathan faz
parte de um grupo de poetas que pertenceriam a
uma fase na qual os ismos datados forma superados
e, em lugar dele, a poesia teria em cada poeta uma
forma individual de composição. Não significa por
isso que há nesses novos poetas que estão surgindo
no país a anarquia da forma e de temas, mas um
percurso poético pessoal que tenha recebido as
mais diversas contribuições tanto da tradição
literária quanto das diferentes vanguardas pelas
quais passou a poesia brasileira..
A poesia de Nathan Sousa, em alguns aspectos
formais e de comportamento com a linguagem, me
lembra outro poeta brasileiro que conheci muito, o
Jurandyr Bezerra (1928-2014), autor de um único
livro publicado, Os limtes do pássaro (Belém:
Editora SEJUP, 1993), bem recebido pela crítica
especializada. Tinha prontos, pelo menos oito
livros de poesia a serem editados. Bezerra nasceu
no Pará e, em seguida, radicou-se no Rio de
Janeiro. Recebeu prêmios e teve poemas traduzidos
para o italiano e eu mesmo verti um poema dele
para o inglês, de título “Poema para Izabel,”
extraído do livro já mencionado, Os limites do
pássaro. Como Nathan, ostenta uma poesia de fino
senso de beleza, onde o sentido do poema se
encontra na própria fruição da linguagem e dos
seus recursos imagéticos, em sua potência criativa e
no seu substrato profundamente humano além de
musical, visível influência dos simbolistas.
Jurandyr Bezerra foi leitor voraz dos grandes
poetas não só brasileiros (Cecília Meireles, Cruz e
Sousa, Murilo Mendes, Fernando
Pessoa), mas um do porte do expressionista alemão
Georg Trakl.(1887- 1914). Tinha especial interesse
pela leitura de respeitados ensaístas, por exemplo,
um Mário Faustino, um Benedito Nunes, um
Antônio Olinto,um Antonio Carlos Secchin, um
José Guilherme Merquior. Recordo vivamente que
Jurandyr citou especialmente o último dos
citados poetas no parágrafo anterior, da mesma
maneira que gostava de citar Cecília Meireles, os
simbolistas. Foram, assim, uns mais outros
menos, os que, segundo ele, lhe ensinaram
finalmente o que é poesia depois de tanto tempo e
canseiras de releituras, porque, acrescentava ele, a
poesia é também um aprendizado do domínio
técnico – uma espécie de epifania, uma porta aberta
aos olhos espantados dos que amam e querem
para si a entrada firme e certeira do sentido da
linguagem e da matéria poética que se traduz, ao
fim, em criação verbal e de apreensão do que seja o
grande verso, a grande poesia. Jurandyr, tal qual
todo bom poeta, passou a vida inteira lendo o que
havia de melhor na poesia universal tanto de
brasileiros quanto de estrangeiros. E como sabia ter
a vocação e a maneira cavalheiresca de ofertar
obras da grande poesia aos amigos! Uma destas
ofertas foi uma antologia de poetas expressionistas
alemães.
O livro Dois olhos sobre a louça branca, de
resto, de título insólito e enigmático, compõe-se de
quatros partes, respectivamente intituladas
“Ogiva de Vidro” “Lágrima de quartzo,” “China,” e
“Estuário / Saliva.” As quatro partes reúnem
cinquenta e um poemas. É obvio que, numa
simples resenha, não daria conta de um comentário
abrangente o suficiente para apreender a riqueza
facilmente detectável em seus poemas, em que a
linguagem da poesia é medida milimetricamente e
se encaixa no tema eleito. Esse frêmito também, em
relação a novos poetas do Piauí, experimentei na
leitura da poesia de Sonia Leal Freitas, O cedro
do Éden (2002) e na poesia satírico-social mas
também estruturalmente refinada de Luiz Filho de
Oliveira na obra Das bocadas infernéticas
(2016).
Não seria neste espaço que adensaria minha
análise da poesia de Nathan Sousa, mas me
impulsiona o desejo de tecer alguns breves
comentários gerais do livro. Tomemos, por
exemplo, três poemas, entre
tantos no livro, que me suscitam a curiosidade
crítica: “Eu e a Cidade” (p.32-33), “Sabor”(p.75) e
“Ceia de cegos” (p.85) e O primeiro escolhido
retoma um tema já poetizado por outros autores
piauienses, um deles sendo Paulo Machado.
Todavia, o tratamento entre este o de Nathan é bem
diverso e reflete outros tempos poéticos. Nos
poemas de Paulo Machado sobre Teresina a poesia,
num lirismo distanciado, se entronca com a
denúncia social e o testemunho do tempo
histórico, enquanto que em Nathan Sousa existe
uma relação mais íntima entre o sujeito lírico e o
tema de Teresina, ou seja, entre o sujeito lírico e
o objeto amado complicado desta vez pelos tempos
de agora, líquidos e apressados no torvelinho da
pós-modernidade impessoal e brutal.
O poema é uma mini-autobiografia do poeta que se
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debruça corajosamente sobre o seu tempo presente
e o passado. Fala do presente da sua cidade,
Teresina, em constante metamorfose. É um belo
poema, um dos melhores do livro costurado entre a
saudade dos entes queridos e as transformações que
o amadurecimento vai exercendo sobre o homempoeta: “retorno à cidade onde nasci/e onde vi meu
pai e (pouco depois) minha mãe partirem/para
sempre”. (p.32, primeira estrofe).
Nesse poema há um controlado halo de nostalgia
indefinida do que foi a cidade do período
existencial do autor por ele mesmo situado:
“Será esta a Teresina/que se abriu em cores e
vozes/ naquele distante ano
de 1973? (p. 33, estrofe 7). É evidente que essa
sensação de estranheza sentida por alguém que se
afastou da sua cidade berço é compartilhada
por outros pessoas, até pelo “homem comum,”
porém sobremodo pelos artistas, poetas, escritores
em geral, gente com maior sensibilidade de
transmitir emoção e beleza através da comunicação
literária. O poema é um grande mergulho no
sentimento da saudade contida pela emoção
controlada pela mensagem sintética tão afinada que
deve ser com o ato poético e pela consciência e
razão metapoética. No poema ‘O sabor,” existe um
“topos,” o da imagem da “louça
branca” que, por sinal,faz parte do título do livro.
Ele, portanto, é recorrente, aparece aqui e ali na
obra. Não é meu intuito aqui me éter neste
sintagma ou no lexema “louça.” Sua hermenêutica
será certamente uma das linhas de força do poema.
Nathan, tanto quanto outros poetas de hoje,
usam de alguns artifícios que já foram empregados
por poetas da modernidade, como um Vasco Graça
Moura (1942-2014) poeta português, ou um mais
antigo, e o norte-americano e.e.cummings (1894-
1962). Eles usaram letra minúscula para nomes
próprios, assim também as empregaram depois de
um ponto. Outra traço tipográfico semânticovisual igualmente encontrado na poesia de Luiz
Filho de Oliveira) é, entre parênteses, incluir um
enunciado alusivo ao poema ou mesmo de
sentido enigmático ou indecifrável. Cumpre não
esquecer que a poesia atualizada de Nathan Sousa
tematicamente se irradia para múltiplas direções,
não somente para o olhar dirigido aos objetos, coisa
e seres, segundo assinalei, mas para outras questões
que embutem no poema voltadas ao universo das
artes, da temas sociais e globais, Combina os
mundos ocidental e oriental. Deslocase como uma espécie de globe-trotter.
Há uma visada a uma abrangência universal
atingindo, além disso, outros espaços naturais, a
água, o líquido, os pássaros (frequente nele
também são suas referência a essa espécie animal.
Voltemos ao poema “Sabor.” Há sempre um
segundo ou terceiro ou mais sentidos num só
poema que converge para uma opacidade de
sentido abrindo-se ao hermetismo e a um
esteticismo acessível a poucos iniciados.
Neste ponto, sua poesia é muito mais sofisticada do
que foram os poetas da geração-70, com o
mimeógrafo, com alguns poetas reunidos em
antologia a cargo de Heloísa Buarque de Holanda,
antologia que se tornou, por assim dizer, um
clássico, sob o título de 26 poetas hoje ou mesmo
com os da geração-90, que teve duas edições
(Editora Aeroplano) e mereceu uma outra antologia
intitulada Esses poetas, também organizada
por Heloísa Buarque de Holanda.
No poema “sabor” é evidente uma dicotomia
entre o abismo de uma hecatombe natural insinuada
pelo binômio “goela e o big bang e um desejo
meio que incerto, a despeito do risco, do recurso à
poesia. O poema se inscreve entre o disfêmico (big
bang, “mefistofélico,” “combustão desavisada” e
“armas” e o eufêmico (“louça branca,” “canto de
louvação,” “educada”). O poema não afirma
abertamente, se camufla semanticamente. No
poema “Ceia dos cegos,” o derradeiro do livro, que
exibe uma epígrafe de escritor português Miguel
Torga, está associado à religiosidade cristã na
acepção do conhecimento atento do Novo
Testamento, do qual é citado uma frase de Mateus
(não sei por que o poeta
grafou em inglês mathew, quando poderia fazê-lo
em português). As referências ao “mito” e ao “sono
da caverna” são bem indicativas das intenções
oblíquas (se é que há intenções num poema) da
natureza do tema do poema. Apontam para muitos
questionamentos de cunho mitológico, social,
estético e filosófico. A citação de Mateus, por sua
vez, reenvia ao topos dos “olhos” e da “louça
branca” que formam o título da
obra. O poema “Ceia dos cegos” não se torna por
isso religioso, católico ou de outra denominação. A
uma afirmação do narrador lírico corresponde a
uma desconstrução. O conceitual se desfaz, muda
de rumo e causa estranhamento não pelas aporias
existentes como ainda por sua súbita
metamorfose semântica, levando àquela opacidade,
àquela conceituação de Mallarmé: (...) referir-se a
um objeto pelo seu nome é suprimir três quartas
partes da fruição do poema, que consiste na
felicidade de adivinhar pouco a pouco;
sugeri-lo, eis o que sonhamos. É o uso perfeito
desse mistério que constitui
o símbolo; evocar pouco a pouco um objeto para
mostrar um estado de alma, ou, inversamente,
escolher um objeto para e desprender dele um
estado de ama por uma série de decifrações.” (apud
70
Tavares, Hênio, Teoria literária. Belo Horizonte:
Editora Itatiaia Limitada, 8.ed. rev. e
aum., 1984, p.89). As múltiplas vozes de espaços e
tempos diferentes tornam a poesia
de Nathan Sousa um poliedro que, num melting
pot, sabe agasalhar ou recusar todos os caminhos
possíveis da poiésis – um desabrochar de temas
cruciais e de questões filosóficas, que atravessam
rios, oceanos, mares, lagos, continentes do
Ocidente e do Oriente e tentam encontrar
ressonâncias ao seu canto de pássaro ávido para ao
menos tornar o nosso universo mais humano e
fecundo, onde o lirismo se faz onipresente
mesmo em meio à contramaré da contraditória e
tumultuada existência contemporânea na Terra.
Dialogue avec toutes choses
Connaissant peu l'auteur, Nathan Sousa, poète
de 43 ans originaire du Piauí, et peu familier avec
ses publications, je m'accroche à son dernier livre,
Dois olhos sobre a jantar branca (Deux yeux sur la
vaisselle blanche) (Guaratinguetá: Penalux, 2016,
85 p.). Cet éditeur a publié d'autres poètes et
essayistes, dont certains que je connais, comme
Luiz Filho de Oliveira, poète du Piauí, et Valdemar
Valente, essayiste.
Ayant vécu si longtemps à Rio de Janeiro, je n'ai
pas pu suivre tout ce qui est publié au Piauí, en
particulier ses auteurs, jeunes et moins jeunes.
Ce que j'apprends, c'est presque par hasard. Je
puise mes références aux nouveaux auteurs parmi
les rares historiens de la littérature du Piauí, comme
Francisco Miguel de Moura et Herculano Moraes.
Comme diraient mes aînés, j'ai lu le livre d'une
traite. Ce fut une lecture rapide qui m'a propulsé.
C'est ce que j'ai fait, et je peux vous l'assurer : ce
n'était pas du temps perdu. Le jeune poète, tout
comme Luiz Filho de Oliveira, me surprend à
plusieurs titres (avec l'étrange sentiment et la
satisfaction que j'ai éprouvés en lisant le poète
Elmar Carvalho dans les années 1990 et en
analysant sa poésie les années suivantes),
notamment par la qualité incontestable de ses vers.
J'ai cherché à déceler une imperfection dans
l'œuvre de Nathan, que ce soit dans la nature du
langage littéraire ou dans l'élaboration même de sa
création poétique, unique et originale pour moi, où
le mot, la phrase, la strophe et le poème tout entier
nous enchantent par la diversité des situations
formelles et humaines évoquées par l'auteur.
Je parie sur la consécration de ce poète et,
bientôt, sur sa visibilité au-delà des frontières du
Piauí. Nathan Sousa nous offre une poétique proche
de la philosophie, sans pour autant négliger le
concret de la vie, la réalité quotidienne avec ses
problèmes et ses impasses, les objets inanimés, la
flore, la faune, les choses en général, c'est-à-dire le
monde naturel et le monde culturel. Tout dans le
livre semble tendre vers une dimension universelle.
Chez Nathan, rien n'échappe à ce que l'on appelle
conventionnellement le monde réel et le monde
abstrait: la lumière, l'ombre et le mythe. Sa poésie
est donc envahie par les objets, les choses, les êtres
humains ou irrationnels, par la fréquence des
allusions, autrement dit par l'intertextualité, qu'elle
soit endolittéraire ou exolitaire (cf. Vítor Manuel de
Aguiar e Silva. Théorie de la littérature. 8e éd., 19e
impression. Coimbra: Livraria Almedina, 2011, p.
629-630), un trait très courant chez les poètes
d'aujourd'hui et déjà annoncé, comme je l'ai
souvent répété, depuis la prédiction du critique
littéraire anglais I.A. Richards (1893-1979).
Il a opté – serait-ce le terme approprié pour une
poésie constellée de signes, de métaphores et de
symboles? – pour une poésie d'une nature
contradictoirement aristocratique, où les vers
résultent d'une imagerie puissante qui touche à de
nombreux aspects de ce que l'on pourrait qualifier
de grand poème de toutes les époques. Cependant,
il convient de noter que l'adjectif « aristocratique »,
utilisé ici spécifiquement, n'a rien à voir avec la
poésie parnassienne ou néo-parnassienne
traditionnelle. Loin de là. Cet adjectif désigne un
type de poésie indéniablement postmoderne au sens
large. C'est-à-dire une poésie qui surpasse les
mouvements d'avant-garde brésiliens grâce aux
changements apportés par le mouvement
concrétiste de 1956 et d'autres formes d'avant-garde
post-concrétistes. Nathan fait partie d'un groupe de
poètes appartenant à une phase où les ismes
obsolètes ont été surmontés et où, à leur place, la
poésie a adopté, pour chacun, une forme de
composition individuelle. Cela ne signifie pas que
ces nouveaux poètes émergents dans le pays
présentent une anarchie formelle et thématique,
mais plutôt un parcours poétique personnel qui a
bénéficié des apports les plus divers de la tradition
littéraire et des divers mouvements d'avant-garde
qu'a connus la poésie brésilienne. La poésie de
Nathan Sousa, par certains aspects formels et par
son approche du langage, me rappelle celle d'un
autre poète brésilien que j'ai bien connu, Jurandyr
Bezerra (1928-2014), auteur d'un seul livre, Os
Limites do Pássaro (Les Limites de l'Oiseau)
(Belém: Editora SEJUP, 1993), qui a été bien
accueilli par la critique. Il avait au moins huit
recueils de poésie prêts à être publiés. Bezerra est
né à Pará et s'est ensuite installé à Rio de Janeiro. Il
a reçu des prix et a fait traduire des poèmes en
italien. J'ai moi-même traduit en anglais l'un de ses
71
poèmes, intitulé « Poème pour Isabel », tiré du livre
susmentionné, Les Limites de l'Oiseau. Comme
Nathan, il déploie une poésie d'un sens raffiné de la
beauté, où le sens du poème réside dans la
jouissance même du langage et de son image, dans
sa puissance créatrice et son substrat profondément
humain et musical, une influence visible des
symbolistes. Jurandyr Bezerra était un lecteur
assidu non seulement des grands poètes brésiliens
(Cecília Meireles, Cruz e Sousa, Murilo Mendes,
Fernando Pessoa), mais aussi d'un auteur de
l'envergure de l'expressionniste allemand Georg
Trakl (1887-1914).
Dialog cu toate lucrurile
Cu puține informații despre autor, poetul Nathan
Sousa din Piauí, în vârstă de 43 de ani, și
nefamiliarizat cu opera sa publicată, mă agăț de cea
mai recentă carte a sa, Dois olhos sobre a jantar
branca (Doi ochi pe farfurii albe) (Guaratinguetá:
Penalux, 2016, 85 p.). Această editură a publicat
alți poeți și eseiști, dintre care îi cunosc pe unii,
precum Luiz Filho de Oliveira, poet din Piauí, și
Valdemar Valente, eseist.
Locuind atât de mult timp în Rio de Janeiro, nu
am reușit să țin pasul cu tot ce s-a publicat în Piauí,
în special cu autorii mai tineri și mai în vârstă.
Ceea ce învăț este aproape întâmplător. Referințele
mele la noii autori îmi iau de la puținii istorici
literari pe care îi are Piauí, precum Francisco
Miguel de Moura și Herculano Moraes. Cum ar
spune cei mai în vârstă decât mine, am citit cartea
dintr-o singură lectură.
A fost o lectură rapidă care m-a propulsat
înainte. Asta am și făcut și vă pot asigura: nu a fost
timp pierdut. Tânărul poet, asemenea lui Luiz Filho
de Oliveira, mă surprinde din mai multe motive (cu
sentimentul și satisfacția stranii cu care l-am citit pe
poetul Elmar Carvalho în anii 1990 și când i-am
analizat poezia în anii următori), în special calitatea
incontestabilă a versurilor sale. Am încercat să văd
dacă aș putea găsi o imperfecțiune în opera lui
Nathan, fie în natura limbajului literar, fie în însăși
elaborarea creației sale poetice, unică și originală
pentru mine, în care cuvântul, fraza, strofa și
întregul poem ne încântă cu gama de situații
formale și umane ridicate de autor.
Pariez pe consacrarea acestui poet și, în curând,
pe vizibilitatea sa dincolo de granițele Piauíului.
Nathan Sousa ne oferă o poetică ce seamănă
îndeaproape cu domeniul filosofic, fără a neglija
însă concretețea vieții, realitatea cotidiană și
problemele și impasurile ei, obiectele neînsuflețite,
flora, fauna, lucrurile în general, adică lumea
naturală și lumea culturală. Totul în carte pare să
tindă spre o dimensiune universală. În Nathan,
nimic nu scapă de ceea ce se numește convențional
lumea reală și lumea abstractă: lumină, umbră și
mit. De aceea, poezia sa este atât de invadată de
obiecte, lucruri, ființe umane sau iraționale, de
frecvența aluzivă, adică de intertextualitate, fie ea
endoliterară sau exoliterară (Cf. Vítor Manuel de
Aguiar e Silva. Teoria Literaturii. Ediția a VIII-a.
Tipărirea a XIX-a. Coimbra: Livraria Almedina,
2011, p. 629-630), o trăsătură foarte comună la
poeții de astăzi și deja anunțată, așa cum am repetat
adesea, încă de la prezicerea criticului literar englez
I.A. Richards (1893-1979).
Traducere de Daniel Dragomirescu
****MINHA RESENHA DO LIVRO "DOIS OLHOS SOBRE A LOUÇA BRANCA," DO POETA PIAUIENSE NATHAN SOUSA, PUBLICADAA PELA REVSISTA ROMENA "ORIZONT LITERAR CONTEMPRAN, DA QUAL SOU COLABORADOR HÁ SETE ANOS. SEDIADA EM BUJCARESTE (OLC), EDIÇÃO DE MAIO/JUNHO, DE 2025.