Cunha e Silva Filho

 

        Perguntaria a você. leitor, seria justo mesmo desejarmos que este fiapo de ano logo se desfaça e em face de alguns acontecimentos duros e trágicos por que a humanidade e, para o nosso caso, o Brasil, passou e passa ainda que menos traumático? No meu juízo, não. O ano de 2016 também poderia ser olhado sem muita impaciência desde que saibamos onde ele nos foi por vezes bom ou até, em algumas poucas situações, ótimo.

       Todavia, aqui se visto de uma perspectiva bem particular, pessoal senão subjetiva. Não devemos descurar a circunstância de que um ano não termina rigorosamente com a virada do calendário. Ele é novo por outros motivos. Porque faz a vida prosseguir arrastando atrás de si alguns restos indesejáveis do Ano Velho. Só com o passar dos dias, dos meses que virão, ele vai adquirindo uma feição própria, uma sensação concreta deque alguma coisa está mudando e de que novos fatos, novas notícias serão incorporadas na linha do tempo.

        Talvez, por isso o Ano Novo seja tão ansioso por melhoras em todos os sentidos da vida humana, talvez ainda porque o Ano Novo é um porvir, algo que ainda não sucedeu no tempo e no espaço. Pode-se vaticinar o que possa vir de melhor, uma vez que ao ser humano repugna desejar coisas ruins tanto em fim de ano quanto em começo de ano. O futuro é sempre esperado como alvissareiro, como um tempo que venha nos trazer paz e felicidade, bons momentos e vitórias. Ninguém aprecia previsões aziagas. Há uma força interior do nosso ser que aspira ao melhor que possa vir.

         Por estas razões é que, ao fim de um ano, há tantos votos de melhores dias, de mais paz, de mais saúde, de mais sucessos em mensagens bela e confortadoras trocadas entre amigos, entre as famílias e no mundo inteiro. Deixemos as tragédias serem narradas pelos programas de fim de ano.Por que repetir tudo aquilo que somente nos provocou repugnância, dor, aflição, indignação.

      O limiar de um Ano Novo é, antes, convidativo à confraternização, a um apelo à paz, à saúde, à amizade, ao amor referidos nacional e universalmente. Só o fanatismo não tem trégua na sua maldade de ações contínuas e mais perversas. Só os ímpios não nos dão sossego nem desejam instaurar o clima da convivência e harmonia entre pessoas, nações sob o apanágio do sentimento humanista, quiçá a primeira via de mudanças para um mundo melhor e para nações que se dividem belicamente entre si.

       Eu costumo dizer que ser bom é, em nossos tempos globalizados, um comportamento muito difícil de manter, ao passo que ser mau é fácil, dá menos transtornos mas também é evidência de que o sentido da humanidade dá um passo para trás e, em geral, sua consequência é a criação de abismos sempre distantes da fraternidade e do bem-querer. A quem está perto de cair no abismo, seria tão bom se a pessoa estivesse imbuída de algumas afirmações de profundo sentido humanitário, como “Ama a teu próximo como a ti mesmo,” ou, para resumir, basta pôr em prática a oração de São Francisco de Assis (1182-1226). Não precisa ser erudito, não precisa ser sábio, nem precisa ser santo para entender que a única porta do respeito aos outros, aos diferentes, aos excluídos, aos injustiçados, aos preteridos, aos ludibriados, aos explorados não é uma teoria da bondade humana, mas uma real prática desta.

     Que o Ano Novo de 2017 lhe traga, leitor, todos os meus votos de paz e alegria em direção à simples e pura felicidade entre os homens de bem em qualquer parte desse amado e tantas vezes maltratado planeta Terra.